
- Hoje à tarde, iremos à casa de meu primo Marcos.
Tive dúvidas diante daquela frase de minha mãe.
- Primo Marcos? Não conheço! – eu dizia.
- Conhece sim, Douglas, só que não se lembra. Na última vez que vocês se viram, você devia ter uns três anos. Luana nem era nascida, eu acho.
- Luana?
- Sim. Luana, sua prima. Filha de Marcos. Ela deve estar hoje com uns quinze ou dezesseis anos.
- Nunca me falou sobre eles, mãe!
- Eles são distantes mesmo. O Marcos é dono de uma pequena rede de supermercados. É um homem muito ocupado.
- E por que vamos lá? Aniversário de alguém?
- Não. Marcos nos ligou esses dias pedindo para que passássemos lá. Parece que ele quer solicitar os serviços advocatícios de seu pai.
- Entendi.
Era um domingo ensolarado e eu queria muito mais que uma tarde em família. Todos os meus amigos lá do prédio estariam assistindo a final do campeonato estadual de futebol na casa de Chupeta. E eu? Provavelmente assistindo meu pai contando as suas fabulosas histórias de fórum.
Conforme combinado, lá estávamos, às três da tarde, na casa do primo Marcos. Meu pai, minha mãe e eu. A casa era muito bonita. Ficava numa rua arborizada e calma. Na frente, uma cerca pintada de branco combinava com as esquadrias. Notei que numa das janelas, no segundo andar, havia um gato, que se levantava meio assustado.
- Será que é aqui mesmo? – perguntava meu pai.
- Pelo endereço, é sim. – dizia minha mãe.
- Toquem a campainha, ora. Só assim saberemos. – eu cortava com rispidez aquela dúvida idiota.
Meu pai tocava.
A porta da casa se abria. Uma senhora vinha nos atender:
- Olá – dizia aquela senhora.
- É aqui que mora o Marcos? – dizia meu pai.
- É sim. Vocês sãos os primos dele?
- Sim, somos. – dizia minha mãe.
- Prazer. O meu nome é Celeste, sou a empregada da casa. Entrem, por favor. Marcos os aguarda.
Nós entravamos.
O primeiro cômodo, a cozinha, nos trazia um cheiro bom de bolo de chocolate recém saído do forno. De lá, avistávamos, à sala, Marcos, sua esposa Patrícia e sua filha Luana. Depois vim a saber que Patrícia não era mãe de Luana, mas madrasta.
- Quanto tempo! – dizia o primo Marcos com empolgação.
O Marcos tratava de apresentarmos uns aos outros. Depois disso, sentávamos todos frente à TV.
Eu notei que o gato – que depois soube ser uma gata, a Mimi – já estava no colo da Luana.
- Ele é rápido, hein! Cheguei a vê-lo lá em cima – eu dizia à Luana.
- Não é ele. É ela. Na certa veio me avisar da visita. – dizia Luana sorridente.
Diante daquele domingo chato (nem a final do jogo eles assistiam ali), eu não teria escolha, a não ser papear com o único ser de idade próxima à minha: Luana.
- Nossa, como nossa família deve ser grande. Nunca soube de sua existência, Luana.
- É sim. É muito grande mesmo. Há alguns meses atrás, por exemplo, conheci um outro primo meu, o Rômulo. Daqui a pouco ele está aí, inclusive.
- Ah! Sim! O Rômulo! Eu conheço. Que toca piano e tal... Ele é meio esquisito, não?
- Esquisito? Como assim? – respondia uma espantada Luana.
- Ah, só vive tocando aquele piano. Não sai de casa quase, não faz nada de divertido...
- Ué, mas tocar piano é divertido para ele!
- Mas aquelas músicas? Parece um velório.
Eu sentia que Luana ficava séria.
- Mas... Espere aí – eu dizia – Estou me lembrando de você! Você passou o último Natal lá na casa do Rômulo, não foi? Rômulo me falou sobre você!
- Sim, passei. Pelo menos parte do Natal – ela ria graciosamente – É que somos namorados.
- Ah...
- E você? Não lembro de ter lhe visto por lá.
- É que passei em casa mesmo, com a família da parte de meu pai.
- Entendi.
Após certa pausa:
- Você conhece a Gisele? – perguntava-me Luana.
- A nossa prima? Sim, conheço.
- Ah...
- Por quê?
- Não, nada.
Na certa todo aquele “mole” que Gisele dava para Rômulo já tinha causado algum estrago.
- Será que podíamos ver o jogo da final? – eu perguntava.
- Jogo de quê?
- De futebol ora! É a final do campeonato estadual, Luana. Está passando na TV! Para que time você torce?
- Não possuo time. Na verdade, aqui em casa, ninguém se liga muito em futebol.
- Ah...
Eu passava a entender a afinidade entre Rômulo e Luana. Que menina esquisitinha, meu Deus! Ela é uma gracinha, eu confesso. Lá no meu prédio, Luana estaria entre as cinco mais gatinhas. Mas com essa personalidade...
- Você costuma ir à praia? – eu perguntava.
- Da última vez que fui não foi nada legal... E você?
- Sim... Vou sempre.
- Por que perguntou? Acha-me branca demais? – ela levemente sorria; achava graça.
- Não, imagina.
A pele branquinha de Luana era até um charme.
Rômulo chegava e cumprimentava a todos nós. Ele trazia uns três CDs e uma flor de papoula, que logo usou para enfeitar o cabelo de Luana. Eu começava a me sentir sobrar naquela sala. Levantava-me e me dirigia até o papo chato de meu pai e Marcos. Mas, de lá, pude ouvir uma frase que muito me fez pensar:
- Gosto tanto do seu jeitinho, Rômulo – dizia Luana.
Em terras onde o conteúdo intelecto-sentimental parecia valer mais que tudo, as minhas paixões pelo futebol e pelos videogames se assemelhavam, talvez, ao cocô de Mimi. Mas era tão bacana ver os dois juntos. Um lindo casal.
Tive dúvidas diante daquela frase de minha mãe.
- Primo Marcos? Não conheço! – eu dizia.
- Conhece sim, Douglas, só que não se lembra. Na última vez que vocês se viram, você devia ter uns três anos. Luana nem era nascida, eu acho.
- Luana?
- Sim. Luana, sua prima. Filha de Marcos. Ela deve estar hoje com uns quinze ou dezesseis anos.
- Nunca me falou sobre eles, mãe!
- Eles são distantes mesmo. O Marcos é dono de uma pequena rede de supermercados. É um homem muito ocupado.
- E por que vamos lá? Aniversário de alguém?
- Não. Marcos nos ligou esses dias pedindo para que passássemos lá. Parece que ele quer solicitar os serviços advocatícios de seu pai.
- Entendi.
Era um domingo ensolarado e eu queria muito mais que uma tarde em família. Todos os meus amigos lá do prédio estariam assistindo a final do campeonato estadual de futebol na casa de Chupeta. E eu? Provavelmente assistindo meu pai contando as suas fabulosas histórias de fórum.
Conforme combinado, lá estávamos, às três da tarde, na casa do primo Marcos. Meu pai, minha mãe e eu. A casa era muito bonita. Ficava numa rua arborizada e calma. Na frente, uma cerca pintada de branco combinava com as esquadrias. Notei que numa das janelas, no segundo andar, havia um gato, que se levantava meio assustado.
- Será que é aqui mesmo? – perguntava meu pai.
- Pelo endereço, é sim. – dizia minha mãe.
- Toquem a campainha, ora. Só assim saberemos. – eu cortava com rispidez aquela dúvida idiota.
Meu pai tocava.
A porta da casa se abria. Uma senhora vinha nos atender:
- Olá – dizia aquela senhora.
- É aqui que mora o Marcos? – dizia meu pai.
- É sim. Vocês sãos os primos dele?
- Sim, somos. – dizia minha mãe.
- Prazer. O meu nome é Celeste, sou a empregada da casa. Entrem, por favor. Marcos os aguarda.
Nós entravamos.
O primeiro cômodo, a cozinha, nos trazia um cheiro bom de bolo de chocolate recém saído do forno. De lá, avistávamos, à sala, Marcos, sua esposa Patrícia e sua filha Luana. Depois vim a saber que Patrícia não era mãe de Luana, mas madrasta.
- Quanto tempo! – dizia o primo Marcos com empolgação.
O Marcos tratava de apresentarmos uns aos outros. Depois disso, sentávamos todos frente à TV.
Eu notei que o gato – que depois soube ser uma gata, a Mimi – já estava no colo da Luana.
- Ele é rápido, hein! Cheguei a vê-lo lá em cima – eu dizia à Luana.
- Não é ele. É ela. Na certa veio me avisar da visita. – dizia Luana sorridente.
Diante daquele domingo chato (nem a final do jogo eles assistiam ali), eu não teria escolha, a não ser papear com o único ser de idade próxima à minha: Luana.
- Nossa, como nossa família deve ser grande. Nunca soube de sua existência, Luana.
- É sim. É muito grande mesmo. Há alguns meses atrás, por exemplo, conheci um outro primo meu, o Rômulo. Daqui a pouco ele está aí, inclusive.
- Ah! Sim! O Rômulo! Eu conheço. Que toca piano e tal... Ele é meio esquisito, não?
- Esquisito? Como assim? – respondia uma espantada Luana.
- Ah, só vive tocando aquele piano. Não sai de casa quase, não faz nada de divertido...
- Ué, mas tocar piano é divertido para ele!
- Mas aquelas músicas? Parece um velório.
Eu sentia que Luana ficava séria.
- Mas... Espere aí – eu dizia – Estou me lembrando de você! Você passou o último Natal lá na casa do Rômulo, não foi? Rômulo me falou sobre você!
- Sim, passei. Pelo menos parte do Natal – ela ria graciosamente – É que somos namorados.
- Ah...
- E você? Não lembro de ter lhe visto por lá.
- É que passei em casa mesmo, com a família da parte de meu pai.
- Entendi.
Após certa pausa:
- Você conhece a Gisele? – perguntava-me Luana.
- A nossa prima? Sim, conheço.
- Ah...
- Por quê?
- Não, nada.
Na certa todo aquele “mole” que Gisele dava para Rômulo já tinha causado algum estrago.
- Será que podíamos ver o jogo da final? – eu perguntava.
- Jogo de quê?
- De futebol ora! É a final do campeonato estadual, Luana. Está passando na TV! Para que time você torce?
- Não possuo time. Na verdade, aqui em casa, ninguém se liga muito em futebol.
- Ah...
Eu passava a entender a afinidade entre Rômulo e Luana. Que menina esquisitinha, meu Deus! Ela é uma gracinha, eu confesso. Lá no meu prédio, Luana estaria entre as cinco mais gatinhas. Mas com essa personalidade...
- Você costuma ir à praia? – eu perguntava.
- Da última vez que fui não foi nada legal... E você?
- Sim... Vou sempre.
- Por que perguntou? Acha-me branca demais? – ela levemente sorria; achava graça.
- Não, imagina.
A pele branquinha de Luana era até um charme.
Rômulo chegava e cumprimentava a todos nós. Ele trazia uns três CDs e uma flor de papoula, que logo usou para enfeitar o cabelo de Luana. Eu começava a me sentir sobrar naquela sala. Levantava-me e me dirigia até o papo chato de meu pai e Marcos. Mas, de lá, pude ouvir uma frase que muito me fez pensar:
- Gosto tanto do seu jeitinho, Rômulo – dizia Luana.
Em terras onde o conteúdo intelecto-sentimental parecia valer mais que tudo, as minhas paixões pelo futebol e pelos videogames se assemelhavam, talvez, ao cocô de Mimi. Mas era tão bacana ver os dois juntos. Um lindo casal.
* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana em Luana, Duas, O Natal de Luana, Gisele, Janeiro Meu e Verdades de Luana.
Mais histórias sobre Luana em Luana, Duas, O Natal de Luana, Gisele, Janeiro Meu e Verdades de Luana.
8 comentários:
Caaara, eu não consigo gostar do Rômulo. Encrenquei de verdade com esse personagem 'oaioiaoisoaisoaisoaiso.
Prefiro o Douglas o/ E é legal ver como tantos personagens estão interligados... :D
Abraços
='-'-
ahahahaha
mto bom! bem divertido!
Rômulo, todas as suas atitudes são suspeitas....
haha
luana está de voltaa!
rs
Luana vooltou!
Mais um ótimo conto :D
www.conto-um-conto.blogspot.com
owwww, que lindo! *-*
quem diria que Douglas e Luana eram parentes?! haha
adorei a volta dela :D
bjo
A coitada da prima ficou deslocada. =/
Também acho que é um lindo casal.
Gostei.
Abraço Luciano.
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah primo novo?
Ai ai viu?
Saudades da Luana, putz, é tão leve lê-la.
Adorei essa parte:
"Em terras onde o conteúdo intelecto-sentimental parecia valer mais que tudo, as minhas paixões pelo futebol e pelos videogames se assemelhavam, talvez, ao cocô de Mimi."
Mas acho que nesse caso ae, até o cocô de Mimi é mais valioso! huahuahauhaahua
Adoreeeeeeeeeei Luciano...
bjoks
Mas que família grande.. Só quero ver o que esse garoto vai aprontar...
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