Com
Paulo fora da banda, a palavra improviso
voltou a fazer parte de nosso vocabulário. As fitas K7 contendo as gravações
dos ensaios sem Paulo não me deixam mentir: eram horríveis! O que se saía
melhor ali era o Rodrigo, que, sabe-se lá como, conseguia executar os riffs sem se embolar nas letras.
Chegamos
a chamar um outro vocalista, um cara muito bom até, que não me recordo do nome
agora. Ele fez alguns ensaios, mas não rolou. Enquanto a gente fazia papel de
empregador, procurando o cara certo para a nossa vaga, eu fazia alguns
telefonemas para Paulo. Eu queria que ele voltasse.
O
maior problema para Paulo avançar com suas ideias inovadoras sempre foi Renato,
talvez o mais firme de nós quatro em relação ao caminho a ser seguido pela Evil
Darkness. Algumas discussões aconteciam entre os dois e, logo após, Paulo me
dizia algo como “não dá, não dá... vou sair fora”.
Nos
telefonemas que fazia para Paulo, eu tentava o convencer de que seria diferente
– mesmo sem ter combinado nada com o restante da banda. “Você quer fazer um som
na linha do Cathedral, do Black Sabbath, Paulo? Nós faremos! Quer que usemos as
sextas cordas das guitarras em ré? Usaremos! Mas volte, cara!”, eu dizia.
Até
que ele voltou!
Ele
havia se mudado com a família para uma casa em Manilha, São Gonçalo, um pouco
longe de todos nós. Havia lá um cômodo sem utilidade e adivinha no que ele se
transformou? Nosso novo QG! Acho que era uma das condições para Paulo voltar à
banda. Consegui convencer o pessoal e lá fomos nós para Manilha.
Mas
isso tudo não durou muito tempo. O local, como disse, era longe e o único
veículo que tínhamos era Santana prata do pai de Rodrigo, que carregava toda a
parafernália. Se ficara fácil para o Paulo, tornara-se difícil para o restante
da banda. Houve até uma vez em que o carro atolou. Chovia muito nesse dia e as
ruas ao redor da casa de Paulo não eram pavimentadas. Foi um sufoco!
Mas
não foi exatamente a distância que causou nossa segunda separação com Paulo; a
verdade é que nada mudara. Tentamos, me lembro, seguir as ideias do nosso frontman, mas parecia que não havia um
consenso ali. Nossa veia de heavy metal tradicional
não parecia ser aceita por Paulo, e então entendemos que era ele ou nós.
Optamos
por nós.
Cansados
de chover no molhado, Renato, Leonardo e eu começamos então a incentivar
Rodrigo a assumir o microfone oficialmente. Já estávamos em 2001 e a coisa
parecia não andar. Acho que era o que precisávamos; ter o controle da situação
e entender de uma vez por todas que ou éramos nós quatro, ou não éramos nada!
A
decisão foi tão séria que decidimos mudar o nome da banda novamente. Over
Action! Até hoje não sei bem o significado disso, mas acho que gira entorno de
uma “super ação”, uma “ação acima do normal”, algo do tipo. Mas o fato é que
todos nós gostamos do nome e foi com ele que ficamos!
Foi
engraçado constatar, mas aos poucos o nosso gás foi voltando e a vontade de
fazer um trabalho sério tomou novamente nossos corações. Eu já havia deixado o
Exército e estava estagiando como técnico em edificações em uma pequena empresa
de construção civil. Ganhava tão pouco que mal via diferença na hora de pagar
os ensaios no estúdio do Flávio. Mas quem precisava de dinheiro? Eu tinha uma
banda de volta à atividade! E isso era o que importava!
Os
ventos estavam tão a nosso favor que, em 24 de novembro de 2001 – dois anos
após a minha entrada na banda –, enfim, estreamos! Foi em um evento chamado
Caldeirão do Rock, em uma casa de shows em Mutondo, São Gonçalo. Dividiríamos o
palco com uma outra banda local, a Metal Wings.
Apesar
de um show especial, tão aguardado, não tenho muito o que dizer sobre. Sei que
havia um clima estranho naquela noite, como se estivéssemos ali simplesmente
para abrir o show da Metal Wings. Tivemos que tocar com o pano de fundo deles a
nossas costas e ainda fomos interrompidos antes do final de nosso set list. A gente levantou a galera e
acho que isso não agradou a um dos organizadores do evento, um sujeito coberto
de piercings que dizia: “Se não
acabar o show agora eu vou desligar o som!” Foi assim que saímos do palco pela
primeira vez. Lamentável.
Mas
quer saber? Foda-se! Éramos um carro possante novamente e estávamos com o
tanque cheio! Aquele fim de ano trazia a brisa dos novos tempos para a Over
Action. Eu sentia!
E eu
estava certo!
Certa
noite, logo no início de 2002, após nossos respectivos expedientes de merda,
tivemos uma reunião que considero a divisora de águas em nossa pequena e
humilde carreira. Paramos em uma mesa na praça de alimentação do Bay Market,
pedimos alguns chopps e traçamos as metas
daquele ano para a Over Action.
Decidíamos
naquela mesa o que seria o nosso último esforço pela banda: gravar um EP com
cinco músicas, a fim de tentar de forma mais séria e profissional um espaço na
cena heavy metal underground. Fizemos
as contas de quanto aquilo ia nos custar, da gravação à produção manual dos
disquinhos, e vimos que não sairia tão caro, desde que fizéssemos exatamente o
planejado.
Em
janeiro mesmo, creio eu, começamos a ensaiar com exaustão as músicas que já
tínhamos e a compor o que faltava. Foram os ensaios mais bacanas da Over
Action!
Os
detalhes de como foi a construção de nosso EP eu vou deixar para o próximo
capítulo.
[Continua]
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