quinta-feira, 9 de agosto de 2012

OS BASTIDORES DOS BASTIDORES: A minha história numa banda de Heavy Metal – Parte X


Como havia dito, antes mesmo das resenhas da Road Crew e da Rock Brigade, alguns shows começaram a “pingar” na agenda da Over Action. No dia 4 de julho daquele frutífero 2002, tocamos no Sobradão do Rock, na Lapa, Rio de Janeiro. Nossa primeira experiência fora do eixo Niterói-São Gonçalo.

Uma péssima experiência.

Acho que tocamos para Fabiana – minha namorada na época, com quem hoje sou casado – e mais alguém que não me recordo, talvez a Mariana, então namorada do Leonardo. Foi bem estranho tocar para menos de cinco pessoas, mas fizemos bem o nosso papel. Não há muito o que dizer sobre esse show, sinceramente. Chovia muito e não éramos ninguém para atrair um público sob aquele pé d’água.

Em agosto tínhamos um show marcado para o dia 9, em Nilópolis, RJ. Esse show estava sendo negociado por mim já havia algum tempo com Deiverson Baracho, vocalista da banda de death metal Akael. E sobre esse show eu tenho muito, mas muito a dizer.

Não me lembro de como o Deiverson conheceu a Over Action, mas provavelmente foi por meio de alguma resenha na internet ou fanzine. Ele estava organizando uma noite de metal no Clube Ideal de Olinda, em Nilópolis, e gostaria da presença de nossa banda no line up. Bacana! Mas o underground também é cheio de interesses e o que a Akael queria de verdade era conseguir, através de um esquema conhecido como intercâmbio, uma apresentação em Niterói (ou São Gonçalo).

O intercâmbio era uma negociação de praxe entre as bandas do underground. Funcionava da seguinte forma: Eu tinha uma banda no RJ, mas queria tocar em SP. Então eu convidava uma banda de SP para tocar com a gente aqui no RJ e, em troca, esta banda de SP nos arrumava um show por lá também. Simples assim.

Deiverson soube por mim do “nosso” Bar do Blues e queria porque queria um show da Akael lá. Ótimo! Pedi que me enviasse o material e veria o que conseguia. De qualquer forma, nosso show em Nilópolis já estava confirmado.

A Akael lançara, um ano antes, um CD com nove faixas, o tenebroso Beyond The Mortal Clouds, e foi esse o material que recebi pelos Correios para dar uma conferida. Meu Deus, o que era aquilo? Mostrei ao restante da Over Action e tudo o que conseguimos fazer foi rir. A gravação era ruim demais e as músicas, palavra!, eram as coisas mais esquisitas que já ouvira!

Como conseguir um show com aquele material? “Depois do nosso show em Nilópolis eu resolvo isso”, pensei.

No dia do show, mais uma vez o Santana prata do pai de Rodrigo estaria a nossa disposição. Renato disse que sabia o caminho, então seguimos suas instruções como se ele fosse o nosso GPS. Erramos o caminho algumas vezes e chegamos a parar na entrada de um lugar muito sinistro, onde todos os olhares se voltaram contra nós. “Dá ré, Rodrigo!”, dissemos.

Chegando ao local, não pude deixar de reparar na faixa que anunciava a noite, com duas bandas de death metal (a Akael e uma outra vinda de SP, mostrando que os interesses de intercâmbio de Deiverson eram mais pretenciosos do que eu imaginava) e a Over Action.

Rodrigo parou o carro e logo avistamos um sujeito com uma camisa da Akael.

– Ei! Onde fica o Clube Ideal de Olinda? – perguntamos.

– Vieram para o show da Akael?

– Sim, na verdade somos a Over Action.

– A banda de heavy metal de Niterói? – respondeu o rapaz meio espantado – Pessoal – disse ele agora à multidão de esquisitos parada em frente ao clube –, é o pessoal da Over Action!

Aquelas pessoas começaram a gritar e não dava para entender se queriam dizer “yeah!, nós adoramos o som de vocês!” ou “bandas de heavy metal não são bem vindas aqui!” Eu fiquei com a segunda impressão.

Chegando ao clube, Deiverson nos recebeu e nos instruiu sobre a passagem de som e toda aquela chatice de sempre. Notei que o palco era totalmente revestido em ardósia, o que me fez pensar: “vamos escorregar feito pinguins e o som refletirá como numa casa espelhada”. Logicamente, a bateria de Leonardo deslizava sobre o palco, conforme ele atacava o bumbo. Conversávamos com a organização do evento sobre o problema, mas a solução nos veio da plateia. Um louco arremessou um pedregulho, quase nos atingindo, dizendo: “coloque isso na frente do bumbo, porra!” Se o bumbo apenas deslizasse, tudo bem, mas também estava desafinado, com a pele frouxa.

– Porque o bumbo está tão desafinado? – perguntou Leonardo.

– É para tocar “defão” – respondeu um débil qualquer.

A tempo: “Defão” seria o aumentativo de death metal. Tenso.

Depois da caótica passagem de som, fomos dar uma volta pelo clube. Tinha uma banca que vendia LPs antigos, uma lanchonete podre – como em todo evento underground que se preze – e um banheiro fétido, onde tive o desprazer de flagrar um idiota berrando sozinho, como se estivesse evocando o Diabo. Quando o sujeito me viu, não soube onde enfiar aquela cara cheia de pó de arroz e sombra. Mijei às gargalhadas, logicamente.

O show foi o mesmo que vínhamos apresentando na (entre nós) chamada Alone In The Tour 2002. A galera curtiu, mas não deixou de pedir músicas de death a cada silêncio de nossas guitarras. Um clima bem hostil, mas a gente estava lá, no ninho deles, e, como sempre, fizemos o nosso trabalho.

Fomos embora com a promessa de levar a Akael para um show em nossa área. Coisa que nunca ocorreu.

[Continua] 

Nenhum comentário: