sábado, 4 de agosto de 2012

OS BASTIDORES DOS BASTIDORES: A minha história numa banda de Heavy Metal – Parte VII


Com a meta de gravar um EP em mente, começamos então a levantar o que tínhamos e o que não tínhamos para o repertório do disco.  Com o passar do tempo acabamos compondo algumas coisas, mas nem tudo seria aproveitado, claro.

O que eu tinha era “Nightlife” (parceria com Paulo), “Flying To The Sky”, (com Renato), “Killer Shark”, alguns riffs bem coesos, como o já citado “o guaraná”, e uma (importantíssima) fita K7 com mais de meia hora de jam session, gravada por mim e Leonardo, quando meu quarto ainda era o QG da banda.

Gravamos essa K7 em um fim de semana à noite em que ele apareceu lá em casa sem saber que o ensaio fora desmarcado. Para que Leonardo não perdesse a viagem, sugeri que fizéssemos um som, apenas guitarra e bateria. E ele topou! Liguei um dos microfones em meu aparelho 3 em 1 e resolvi gravar aquilo. A regra era uma só: não tocaríamos nada do repertório da banda, apenas coisas inéditas, que nos viesse ali, naquele momento, puro sentimento jazz.

Após levarmos aquele som, resolvemos escutar aquilo que havíamos feito. Rimos bastante, mas também nos impressionamos com a quantidade de riffs e levadas bacanas que produzimos ali.

A coisa mais “pronta” que Renato possuía era uma música chamada “Dying Day”, que, há um bom tempo, vínhamos executando durante os ensaios. Lembro de ser uma música com um riff bastante rápido e com algumas mudanças de cadência que necessitavam ainda serem lapidadas se quisesse entrar no disco.

Leonardo não compunha. Se compunha não nos mostrava. Para falar a verdade, ele era um cara muito estranho. Tocava uma bateria violenta! Era bom, muito bom! Mas se ele estivesse chateado com alguma coisa lá fora, puta que pariu!, o estúdio virava uma chateação também e nada fluía. Agora, quando o cara estava de bom humor também, meu amigo, era uma coisa de louco!

Leonardo e Renato se estranhavam com frequência, principalmente no recomeço da banda, logo assim que eu entrei, em 1999. Lembro de uma vez em que Leonardo se atrasara (e muito) para o ensaio e Renato não deixou passar. Os dois discutiram feio, assim que terminou o ensaio. Eu fiquei assustado com o tom de voz de Renato e fiquei atento para não deixar que os dois saíssem na porrada. Notei que Rodrigo, calmamente, enrolava seus cabos e guardava sua guitarra, como se nada estivesse acontecendo.

– Rodrigo – eu disse –, esses caras vão se matar aqui no meu quarto!

– Cara – disse-me Rodrigo de forma bem calma –, isso sempre acontece. Relaxa. Eles vão se entender.

Minha mãe quase suspendeu os nossos ensaios por conta daquela briga. Mas o mais engraçado era constatar que Rodrigo tinha razão. Nos ensaios seguintes eles estavam de bem.

Bem, e o que falar do Rodrigo? O cara, junto com o seu primo Wagner Santos, era O compositor da Over Action. A melhor música do EP, na minha opinião, “The Last Dance”, conta com letra de Wagner e música de Rodrigo. Ele não era só um bom compositor, mas um arranjador de primeira também! Quando Rodrigo compunha algo ele sempre me telefonava:

Cara, preciso te mostrar uma coisa – dizia Rodrigo.

– Lá vem você! – eu dizia – Mostra aí!

Rodrigo então ligava sua guitarra, posicionava o telefone próximo ao amplificador e atacava riffs tão complexos que eu pensava: “Fudeu! Como vamos executar isso!” E, depois de mostrar tudo aquilo, ele dizia:

– Preciso ir aí para te passar a linha da sua guitarra, para você ver como que o riff funciona com nós dois tocando.

Filho da mãe! Rodrigo quando compunha não vinha apenas com a melodia e o acompanhamento. O cara compunha as linhas de guitarra, baixo, bateria, teclado, vozes, tudo! A única coisa que eu tinha trabalho de criar era o meu solo.

Claro que ele deixava a composição aberta a sugestões, mas na maioria das vezes a coisa vinha tão perfeita que... pra quê, né? “The Winner”, por exemplo, tem letra de Wagner e música de Rodrigo, mas vários elementos foram adicionados à composição – inclusive o lendário riff  “o guaraná”, logo na introdução.

O Wagner era um excelente letrista. Gente fina toda vida. Não sabia tocar nada, mas era um observador nato e amante do heavy metal. Como compositor foi muito importante para a Over Action, mas quando a figura resolveu nos visitar em um ensaio, meu Deus do céu... Não teve ensaio. Ele perturbou tanto, mais tanto, que não conseguimos render nada. Wagner chegou ao ponto de sentar-se à bateria – instrumento que ele não sabia conduzir, diga-se – e ficar, ele e Rodrigo, lembrando os dez melhores riffs do Judas Priest, por exemplo. Após aquele ensaio, todos dissemos o mesmo: “Rodrigo, nunca mais traga o Wagner, por favor!”

Aos poucos, nos ensaios, íamos testando música por música, a fim de decidirmos o que iria de fato para o disco. Dessa forma fecharíamos as cinco músicas a serem ensaiadas à exaustão. O objetivo era chegar ao estúdio de gravação sem o risco de erros, o que nos resultaria em mais horas de estúdio, ou seja, mais dinheiro.   

Decidimos então por “The Winner”, “Nightlife”, “The Last Dance”, “Flying To The Sky” e alguma coisa feita a partir do riff que Leonardo e eu mostramos em um dos ensaios – riff oriundo daquela K7 que me referi no início deste capítulo. O resultado foi uma faixa de nove minutos que intitularia o EP: “Alone In The Dark”. “Dying Day” e outras faixas ficariam de fora do projeto.

“Alone In The Dark” foi a última música a ser composta para o disco e é, até hoje, a música que mais representa aquilo que sentíamos naquele momento. A música foi composta, praticamente, em uma sessão de três horas, no estúdio do Flávio. Fomos opinando, compondo, costurando e arranjando cada minuto daquela faixa, os quatro, juntos!

Quase uma suíte, “Alone In The Dark” contava com uma cacetada de riffs e levadas diferentes, solos, introdução de teclado, interlúdio de violão clássico (algo que compus ainda nas aulas da Sueli, em 1997)... Nos dias seguintes foi que Rodrigo e Renato compuseram a letra, que conta a história de uma menina cujo pai a perdera por conta de um pacto com o Diabo. Algo do tipo.

Com o repertório do disco decidido, era chegada a hora de ensaiar como se só existissem essas cinco músicas no planeta. Enquanto nos preparávamos no estúdio do Flávio, agendávamos algumas horas de gravação para o mês de março, no FD Studio, que fica no Barro Vermelho, São Gonçalo.

Estávamos bastante ansiosos.

[Continua]

Nenhum comentário: