
Com
a meta de gravar um EP em mente, começamos então a levantar o que tínhamos e o
que não tínhamos para o repertório do disco.
Com o passar do tempo acabamos compondo algumas coisas, mas nem tudo
seria aproveitado, claro.
O
que eu tinha era “Nightlife” (parceria com Paulo), “Flying To The Sky”, (com
Renato), “Killer Shark”, alguns riffs
bem coesos, como o já citado “o guaraná”, e uma (importantíssima) fita K7 com
mais de meia hora de jam session,
gravada por mim e Leonardo, quando meu quarto ainda era o QG da banda.
Gravamos
essa K7 em um fim de semana à noite em que ele apareceu lá em casa sem saber
que o ensaio fora desmarcado. Para que Leonardo não perdesse a viagem, sugeri
que fizéssemos um som, apenas guitarra e bateria. E ele topou! Liguei um dos
microfones em meu aparelho 3 em 1 e resolvi gravar aquilo. A regra era uma só:
não tocaríamos nada do repertório da banda, apenas coisas inéditas, que nos
viesse ali, naquele momento, puro sentimento jazz.
Após
levarmos aquele som, resolvemos escutar aquilo que havíamos feito. Rimos
bastante, mas também nos impressionamos com a quantidade de riffs e levadas bacanas que produzimos
ali.
A
coisa mais “pronta” que Renato possuía era uma música chamada “Dying Day”, que,
há um bom tempo, vínhamos executando durante os ensaios. Lembro de ser uma
música com um riff bastante rápido e
com algumas mudanças de cadência que necessitavam ainda serem lapidadas se
quisesse entrar no disco.
Leonardo
não compunha. Se compunha não nos mostrava. Para falar a verdade, ele era um
cara muito estranho. Tocava uma bateria violenta! Era bom, muito bom! Mas se
ele estivesse chateado com alguma coisa lá fora, puta que pariu!, o estúdio
virava uma chateação também e nada fluía. Agora, quando o cara estava de bom
humor também, meu amigo, era uma coisa de louco!
Leonardo
e Renato se estranhavam com frequência, principalmente no recomeço da banda,
logo assim que eu entrei, em 1999. Lembro de uma vez em que Leonardo se atrasara
(e muito) para o ensaio e Renato não deixou passar. Os dois discutiram feio,
assim que terminou o ensaio. Eu fiquei assustado com o tom de voz de Renato e
fiquei atento para não deixar que os dois saíssem na porrada. Notei que
Rodrigo, calmamente, enrolava seus cabos e guardava sua guitarra, como se nada
estivesse acontecendo.
–
Rodrigo – eu disse –, esses caras vão se matar aqui no meu quarto!
–
Cara – disse-me Rodrigo de forma bem calma –, isso sempre acontece. Relaxa.
Eles vão se entender.
Minha
mãe quase suspendeu os nossos ensaios por conta daquela briga. Mas o mais
engraçado era constatar que Rodrigo tinha razão. Nos ensaios seguintes eles
estavam de bem.
Bem,
e o que falar do Rodrigo? O cara, junto com o seu primo Wagner Santos, era O
compositor da Over Action. A melhor música do EP, na minha opinião, “The Last
Dance”, conta com letra de Wagner e música de Rodrigo. Ele não era só um bom
compositor, mas um arranjador de primeira também! Quando Rodrigo compunha algo
ele sempre me telefonava:
– Cara, preciso te mostrar uma coisa –
dizia Rodrigo.
– Lá
vem você! – eu dizia – Mostra aí!
Rodrigo
então ligava sua guitarra, posicionava o telefone próximo ao amplificador e
atacava riffs tão complexos que eu
pensava: “Fudeu! Como vamos executar isso!” E, depois de mostrar tudo aquilo,
ele dizia:
– Preciso ir aí para te passar a linha da
sua guitarra, para você ver como que o riff funciona com nós dois tocando.
Filho
da mãe! Rodrigo quando compunha não vinha apenas com a melodia e o
acompanhamento. O cara compunha as linhas de guitarra, baixo, bateria, teclado,
vozes, tudo! A única coisa que eu tinha trabalho de criar era o meu solo.
Claro
que ele deixava a composição aberta a sugestões, mas na maioria das vezes a
coisa vinha tão perfeita que... pra quê, né? “The Winner”, por exemplo, tem
letra de Wagner e música de Rodrigo, mas vários elementos foram adicionados à
composição – inclusive o lendário riff “o guaraná”, logo na introdução.
O
Wagner era um excelente letrista. Gente fina toda vida. Não sabia tocar nada,
mas era um observador nato e amante do heavy
metal. Como compositor foi muito importante para a Over Action, mas quando
a figura resolveu nos visitar em um ensaio, meu Deus do céu... Não teve ensaio.
Ele perturbou tanto, mais tanto, que não conseguimos render nada. Wagner chegou
ao ponto de sentar-se à bateria – instrumento que ele não sabia conduzir,
diga-se – e ficar, ele e Rodrigo, lembrando os dez melhores riffs do Judas Priest, por exemplo. Após
aquele ensaio, todos dissemos o mesmo: “Rodrigo, nunca mais traga o Wagner, por
favor!”
Aos
poucos, nos ensaios, íamos testando música por música, a fim de decidirmos o
que iria de fato para o disco. Dessa forma fecharíamos as cinco músicas a serem
ensaiadas à exaustão. O objetivo era chegar ao estúdio de gravação sem o risco
de erros, o que nos resultaria em mais horas de estúdio, ou seja, mais
dinheiro.
Decidimos
então por “The Winner”, “Nightlife”, “The Last Dance”, “Flying To The Sky” e
alguma coisa feita a partir do riff que
Leonardo e eu mostramos em um dos ensaios – riff
oriundo daquela K7 que me referi no início deste capítulo. O resultado foi
uma faixa de nove minutos que intitularia o EP: “Alone In The Dark”. “Dying
Day” e outras faixas ficariam de fora do projeto.
“Alone
In The Dark” foi a última música a ser composta para o disco e é, até hoje, a
música que mais representa aquilo que sentíamos naquele momento. A música foi
composta, praticamente, em uma sessão de três horas, no estúdio do Flávio. Fomos
opinando, compondo, costurando e arranjando cada minuto daquela faixa, os
quatro, juntos!
Quase
uma suíte, “Alone In The Dark” contava com uma cacetada de riffs e levadas diferentes, solos, introdução de teclado,
interlúdio de violão clássico (algo que compus ainda nas aulas da Sueli, em
1997)... Nos dias seguintes foi que Rodrigo e Renato compuseram a letra, que
conta a história de uma menina cujo pai a perdera por conta de um pacto com o
Diabo. Algo do tipo.
Com
o repertório do disco decidido, era chegada a hora de ensaiar como se só
existissem essas cinco músicas no planeta. Enquanto nos preparávamos no estúdio
do Flávio, agendávamos algumas horas de gravação para o mês de março, no FD
Studio, que fica no Barro Vermelho, São Gonçalo.
Estávamos
bastante ansiosos.
[Continua]
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