segunda-feira, 6 de agosto de 2012

OS BASTIDORES DOS BASTIDORES: A minha história numa banda de Heavy Metal – Parte VIII


Já tínhamos esquematizado tudo. Para não gastarmos muitas horas com a gravação do EP, a base (bateria, baixo e guitarras de acompanhamento) seria gravada com todos nós tocando juntos. E para que isso fosse gravado de forma decente, precisávamos estar muito bem ensaiados, até porque os riffs e andamentos arranjados por Rodrigo eram encrenca pura!

No primeiro dia de gravação, chegamos ao FD Studio e explicamos como seria todo o procedimento ao Felipe, dono do estúdio, que prontamente microfonou nossos instrumentos e nos posicionou da melhor forma na sala de gravação.

Com tudo pronto e o “OK” dado por Felipe na sala técnica, decidimos começar pelas fáceis “Nightlife” e “Flying To The Sky”, as quais já tocávamos tanto que erros estavam praticamente fora de cogitação. A cada take gravado Felipe nos deixava ouvir. Pela primeira vez escutávamos o nosso som de forma nítida.

O medo maior estava na quebrada “The Last Dance”. Ficávamos nas mãos de Leonardo, que nos ensaios nunca acertara a introdução de primeira. Mas ali, na gravação, valendo, vai entender, o cara a executou sem erros, no primeiro take! “Não acredito que ele conseguiu!”, eu pensava – e todos deviam ter pensado isso também –, enquanto levávamos o restante da música.

Depois foi a vez de “The Winner”, que se não me engano nos custou alguns takes extras, e da longuíssima “Alone In The Dark”, que precisava ser gravada em duas partes – o interlúdio e a introdução foram gravados após o take base, separadamente.

A cada take finalizado, um misto de euforia e alívio. Saímos do primeiro dia de gravação com as bases todas finalizadas, restando apenas as vozes e os solos de guitarra.

No segundo e último dia de gravação, hora de Rodrigo colocar as vozes. Um grande desafio, porque a voz era justamente o elemento que, apesar da confiança que tínhamos em Rodrigo, gerava mais dúvida. Não sabíamos como nosso “novo” vocalista seria aceito, essa era a verdade. Rodrigo nunca foi dono de grandes agudos e por isso algumas linhas de voz sofreram mudanças se comparadas as antigas execuções de Paulo. Sabíamos do desafio. E Rodrigo também. Apesar de se tratar de uma estreia, sentíamos que já tínhamos uma pequena história para trás.

Foi Rodrigo quem arranjou as vozes; as primeiras, segundas e até terceiras, quando necessárias. Arranjou também as vozes de “Alone In The Dark”, cuja história era contada ora por ele, ora pelo Capeta! Sim, a voz do Capeta que se ouve na música nada mais é do que a voz de Rodrigo modificada por um processador de efeitos. Gargalhamos muito durante o processo, mas ficamos muito felizes com o resultado também.

Rodrigo gravou também os teclados presentes em “Alone In The Dark”. Sem ele a coisa seria muito, mas muito tensa na Over Asction. Eu sempre me senti muito seguro com Rodrigo no estúdio, porque sabia que nada passaria por seu ouvido quase absoluto. Incansável, explicava cada nota da bateria para suas criações.

– Contratempo aberto! – dizia Rodrigo a Leonardo – Condução! Ataque! Agora contratempo fechado! Nãããão, Leonardo! Não! Fechado!

Era nesse level.

A última coisa a ser gravada para o EP foram os solos das guitarras. Com nítida influência de Judas Priest e Iron Maiden, nossas músicas sempre possuíam dois ou mais solos. Eu utilizava quase sempre poucas notas, mas adorava abusar no hammer on, pull off, slide, alavanca e tapping, enquanto Rodrigo optava muito por palhetadas alternadas e rápidas, mas executava bons sweeps também. Éramos guitarristas bem diferentes na hora de compor e a gente adorava isso!

Enfim, tudo estava gravado. As coordenadas de mixagem já tinham sido passadas para o Felipe e agora só nos restava esperar. O trabalho agora era com ele.

Ansiedade! Muita ansiedade! Mas precisávamos adiantar a outra parte do processo, que era a parte física do EP, como capa, mídia, estojo etc.

Eu já me arriscava no CorelDRAW 7 – ainda sem saber que meu futuro estava no Design e na Publicidade – e fiquei responsável pela parte gráfica do EP. Mas o que esperar de um moleque inexperiente como eu? Nossa logo era a coisa mais simples que um ser humano pôde criar. Mas eu gostava muito dela, mesmo assim.

Havia um CD lá em casa com uma enxurrada de fotos, dessas que você compra para peças publicitárias, enfim, um banco de imagens. Esse CD possuía, entre tantas outras, uma foto que parecia ter sido feita para o nosso EP! Não pensei duas vezes em incluí-la no projeto gráfico. Os caras se amarraram! Estava perfeita!

Alguns dias depois, quando o EP ficou pronto, Renato foi até o FD Studio e pegou a nossa tão sonhada master. Renato me ligou de onde trabalhava e disse: “Peguei o nosso EP, Luciano! Dá um pulo aqui! Você precisa escutar!” Eu trabalhava próximo a ele, então dei uma desculpa no escritório e fui voando até lá.

Chegando na antiga Telemar, fui até a sala de Renato e ouvi o resultado de nosso EP. Que sensação! Indescritível! Para nós aquilo era perfeito! Nossas mentes ainda tão jovens devem ter pensado algo como “fudeu, vamos ganhar o mundo com esse EP”. Rodrigo e Leonardo logo ouviriam também.

A empolgação só aumentava, já que, naquele mesmo mês de março, teríamos o nosso primeiro show de lançamento de Alone In The Dark. Seria no Bar de Blues, em São Gonçalo, num evento chamado Metal Invaders (que depois fez muito sucesso no local, com várias edições posteriores), organizado por Henrique (ex-Dark Side) e Alain Tramont, guitarrista de uma banda cover do Helloween, a Revelation, que contava com Rodrigo no teclado e Henrique, agora, no contrabaixo.

Apressamos então a confecção de algumas cópias do nosso EP para termos o que vender no show. Renato imprimiu as capas e as etiquetas – às custas da Telemar –, eu imprimi os encartes – às custas da Geomap Consultoria e Projetos (onde eu trabalhava) –, e Rodrigo ficou encarregado de montar e fazer as cópias do EP, em casa mesmo.

Tudo parecia muito perfeito. Mas certa noite, Rodrigo me telefonava dizendo que precisava me mostrar uma coisa que eu não iria acreditar quando visse! Já era tarde e Rodrigo então apareceu lá em casa portando uma edição da revista Rock Brigade. O que ele tinha para me mostrar era de fato inacreditável! Era um anúncio de um selo especializado em heavy metal, como a Roadrunner Records e a Hellion Records, algo do tipo. Neste anúncio, em meio àquele monte de títulos, lá estava a capa de um CD de uma banda chamada Restless, intitulado Alone In The Dark e – pasme! – utilizando a mesma foto que eu havia escolhido para a capa do nosso EP.

Diante de tamanha coincidência, deveríamos cancelar a produção gráfica do EP, mas, infelizmente, tudo já estava pronto. Pelo menos uma pequenina tiragem de vinte cópias para o show do Bar do Blues. Quem comprou aquele EP, naquela noite, possui em casa uma edição limitadíssima de  Alone In The Dark!

[Continua]

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