
No
primeiro dia de gravação, chegamos ao FD Studio e explicamos como seria todo o
procedimento ao Felipe, dono do estúdio, que prontamente microfonou nossos
instrumentos e nos posicionou da melhor forma na sala de gravação.
Com
tudo pronto e o “OK” dado por Felipe na sala técnica, decidimos começar pelas
fáceis “Nightlife” e “Flying To The Sky”, as quais já tocávamos tanto que erros
estavam praticamente fora de cogitação. A cada take gravado Felipe nos deixava ouvir. Pela primeira vez
escutávamos o nosso som de forma nítida.
O
medo maior estava na quebrada “The Last Dance”. Ficávamos nas mãos de Leonardo,
que nos ensaios nunca acertara a introdução de primeira. Mas ali, na gravação,
valendo, vai entender, o cara a executou sem erros, no primeiro take! “Não acredito que ele conseguiu!”,
eu pensava – e todos deviam ter pensado isso também –, enquanto levávamos o
restante da música.
Depois
foi a vez de “The Winner”, que se não me engano nos custou alguns takes extras, e da longuíssima “Alone In
The Dark”, que precisava ser gravada em duas partes – o interlúdio e a
introdução foram gravados após o take base,
separadamente.
A
cada take finalizado, um misto de euforia
e alívio. Saímos do primeiro dia de gravação com as bases todas finalizadas,
restando apenas as vozes e os solos de guitarra.
No
segundo e último dia de gravação, hora de Rodrigo colocar as vozes. Um grande
desafio, porque a voz era justamente o elemento que, apesar da confiança que
tínhamos em Rodrigo, gerava mais dúvida. Não sabíamos como nosso “novo”
vocalista seria aceito, essa era a verdade. Rodrigo nunca foi dono de grandes
agudos e por isso algumas linhas de voz sofreram mudanças se comparadas as
antigas execuções de Paulo. Sabíamos do desafio. E Rodrigo também. Apesar de se
tratar de uma estreia, sentíamos que já tínhamos uma pequena história para
trás.
Foi
Rodrigo quem arranjou as vozes; as primeiras, segundas e até terceiras, quando
necessárias. Arranjou também as vozes de “Alone In The Dark”, cuja história era
contada ora por ele, ora pelo Capeta! Sim, a voz do Capeta que se ouve na
música nada mais é do que a voz de Rodrigo modificada por um processador de
efeitos. Gargalhamos muito durante o processo, mas ficamos muito felizes com o
resultado também.
Rodrigo
gravou também os teclados presentes em “Alone In The Dark”. Sem ele a coisa
seria muito, mas muito tensa na Over Asction. Eu sempre me senti muito seguro
com Rodrigo no estúdio, porque sabia que nada passaria por seu ouvido quase
absoluto. Incansável, explicava cada nota da bateria para suas criações.
–
Contratempo aberto! – dizia Rodrigo a Leonardo – Condução! Ataque! Agora
contratempo fechado! Nãããão, Leonardo! Não! Fechado!
Era
nesse level.
A
última coisa a ser gravada para o EP foram os solos das guitarras. Com nítida influência
de Judas Priest e Iron Maiden, nossas músicas sempre possuíam dois ou mais
solos. Eu utilizava quase sempre poucas notas, mas adorava abusar no hammer on, pull off, slide, alavanca
e tapping, enquanto Rodrigo optava
muito por palhetadas alternadas e rápidas, mas executava bons sweeps também. Éramos guitarristas bem
diferentes na hora de compor e a gente adorava isso!
Enfim,
tudo estava gravado. As coordenadas de mixagem já tinham sido passadas para o
Felipe e agora só nos restava esperar. O trabalho agora era com ele.
Ansiedade!
Muita ansiedade! Mas precisávamos adiantar a outra parte do processo, que era a
parte física do EP, como capa, mídia, estojo etc.
Eu
já me arriscava no CorelDRAW 7 – ainda sem saber que meu futuro estava no
Design e na Publicidade – e fiquei responsável pela parte gráfica do EP. Mas o
que esperar de um moleque inexperiente como eu? Nossa logo era a coisa mais
simples que um ser humano pôde criar. Mas eu gostava muito dela, mesmo assim.
Havia
um CD lá em casa com uma enxurrada de fotos, dessas que você compra para peças
publicitárias, enfim, um banco de imagens. Esse CD possuía, entre tantas
outras, uma foto que parecia ter sido feita para o nosso EP! Não pensei duas
vezes em incluí-la no projeto gráfico. Os caras se amarraram! Estava perfeita!
Alguns
dias depois, quando o EP ficou pronto, Renato foi até o FD Studio e pegou a
nossa tão sonhada master. Renato me
ligou de onde trabalhava e disse: “Peguei o nosso EP, Luciano! Dá um pulo aqui!
Você precisa escutar!” Eu trabalhava próximo a ele, então dei uma desculpa no
escritório e fui voando até lá.
Chegando
na antiga Telemar, fui até a sala de Renato e ouvi o resultado de nosso EP. Que
sensação! Indescritível! Para nós aquilo era perfeito! Nossas mentes ainda tão
jovens devem ter pensado algo como “fudeu, vamos ganhar o mundo com esse EP”.
Rodrigo e Leonardo logo ouviriam também.
A
empolgação só aumentava, já que, naquele mesmo mês de março, teríamos o nosso
primeiro show de lançamento de Alone In
The Dark. Seria no Bar de Blues, em São Gonçalo, num evento chamado Metal
Invaders (que depois fez muito sucesso no local, com várias edições
posteriores), organizado por Henrique (ex-Dark Side) e Alain Tramont, guitarrista
de uma banda cover do Helloween, a Revelation, que contava com Rodrigo no
teclado e Henrique, agora, no contrabaixo.
Apressamos
então a confecção de algumas cópias do nosso EP para termos o que vender no
show. Renato imprimiu as capas e as etiquetas – às custas da Telemar –, eu
imprimi os encartes – às custas da Geomap Consultoria e Projetos (onde eu
trabalhava) –, e Rodrigo ficou encarregado de montar e fazer as cópias do EP,
em casa mesmo.
Tudo
parecia muito perfeito. Mas certa noite, Rodrigo me telefonava dizendo que
precisava me mostrar uma coisa que eu não iria acreditar quando visse! Já era
tarde e Rodrigo então apareceu lá em casa portando uma edição da revista Rock
Brigade. O que ele tinha para me mostrar era de fato inacreditável! Era um
anúncio de um selo especializado em heavy
metal, como a Roadrunner Records e a Hellion Records, algo do tipo. Neste
anúncio, em meio àquele monte de títulos, lá estava a capa de um CD de uma
banda chamada Restless, intitulado Alone
In The Dark e – pasme! – utilizando a mesma foto que eu havia escolhido
para a capa do nosso EP.
Diante
de tamanha coincidência, deveríamos cancelar a produção gráfica do EP, mas,
infelizmente, tudo já estava pronto. Pelo menos uma pequenina tiragem de vinte
cópias para o show do Bar do Blues. Quem comprou aquele EP, naquela noite,
possui em casa uma edição limitadíssima de Alone In
The Dark!
[Continua]
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