quinta-feira, 24 de julho de 2008

CULPADOS

Eu abria a porta de casa.
- Oi.
- Oi, amor. Chegou cedo. O que houve?
Perguntava minha esposa.
- O transito resolveu dar uma trégua hoje.
- Que bom. Chegou a tempo de assistir sua filha papando.
- PAPAI, VEM PAPA COM EU!
Minha filha de dois anos berrava da cozinha.
- PAPAI JÁ VAI, FILHA!
Eu respondia tentando demonstrar alegria.
- O que foi, Paulo? Parece preocupado.
- Onde está Amanda?
Eu perguntava sobre minha filha mais velha.
- Saiu à tarde e não voltou até agora.
- Mas saiu para onde?
- Para a casa de uma amiga, a Roberta.
- Eu já falei que não a quero colada com essa Roberta. E pelo o que sei, Amanda estava de castigo, não? Minha palavra aqui nessa casa não tem mais valor? É isso?
- Paulo, Amanda já tem 17 anos, como vou prendê-la dentro de casa?
- Não quero que a prenda. Quero que Amanda me obedeça. Só isso.
- Não me respondeu sobre sua cara de preocupado, Paulo.
- Com o que eu devo estar preocupado, Alice? Amanda repete o ano no colégio, se envolve com uma amiga que todos nós sabemos que se vende a troco de maconha ali no morro e você me pergunta uma coisa dessas, Alice? Faça-me o favor.
- Paulinha me toma muito tempo, Paulo. Eu acabo me descuidando um pouco de Amanda.
- Aí é que está! Amanda tinha que estar aqui a te ajudar e não na casa de Roberta, aquele projeto de vagabunda.
- Paulo, se acalme.
- PAPAI, VEM PAPAR COM EU!
- ESTOU INDO, FILHA!
- Quer que eu ligue para Amanda, Paulo?
- Ligue e ordene que volte para casa. Quero ter uma conversa séria com essa menina.
- OK.

Dos seus 15 anos para cá, Amanda só vinha me trazendo problemas. Já havia engravidado de um cara que até hoje eu não sei quem é e abortado sem que eu e Alice soubéssemos. Recebemos as tristes notícias da pior maneira possível, com Amanda gritando por conta de uma hemorragia causada pelo medicamento abortivo que havia ingerido. No hospital, eu ouvia de um médico a mais humilhante bronca de minha vida. Mais tarde, soube que ela estava envolvida com um filhinho de papai que a enchia de tudo quanto era tipo de drogas. Entre muitas outras coisas que me tiravam o sono.

Sempre ouvia dizer que o diálogo era o melhor caminho para um bom entendimento entre pais e filhos, mas em que momento eu poderia conversar com Amanda? Durante o dia e boa parte da noite eu estava trabalhando. Quando eu chegava em casa, ou Amanda já estava dormindo ou estava na rua e totalmente incomunicável. Nos poucos momentos em que eu estava em casa, Amanda tratava de se ocupar com qualquer futilidade para que uma conversa comigo fosse sempre impossível. Alice, coitada, se desdobrava vendendo salgado para fora e ainda cuidava de Paulinha com muito empenho, porém, Amanda ficava livre para aprontar as suas sem sequer ajudar sua mãe. Isso me irritava profundamente.

Naquele dia, eu ajudava Paulinha com a janta enquanto ouvia finalmente Alice falando com Amanda ao telefone.
- Filha. Venha já para casa! Eu disse já! Seu pai está aqui furioso! Você tem 5 minutos para me aparecer aqui! Ande!
Desligava o telefone.
- O que ela disse?
- Disse que está a caminho.
- Vou tomar um banho. Se eu me estourar hoje com Amanda eu nem sei o que farei com ela...
- Paulo, se acalme.
- Essa minha calma não resolveu nada até então, Alice. Vou experimentar a raiva. Vamos ver se assim essa menina entende a minha língua.

Enquanto eu tomava um banho gelado, escutava a porta se abrir e os passos desleixados de Amanda. Podia também ouvir o diálogo entre mãe e filha.
- Meu pai está calmo?
- Não. E acho bom você ouvir o que ele tem a dizer.
- Meu pai é um porre.
- EU ESTOU OUVINDO, AMANDA! SENTE-SE NA SALA E ME ESPERE CALADA! OUVIU?
Eu gritava de dentro do banheiro em alto e bom som. O silêncio reinava.

Saía do banho já pronto para Amanda.
- Me responda uma coisa: O que eu lhe disse sobre não sair de casa sem a minha permissão.
- É que minha mãe...
- Não me interessa! Sua mãe se mata de trabalhar enquanto você fica vagabundeando por aí! E por falar em vagabunda, quantas vezes já lhe disse que não a quero com essa tal de Roberta?
- EU NÃO POSSO TER AMIGOS? MERDA!
- ABAIXE ESSA VOZ PARA FALAR COMIGO SUA...
- SUA O QUÊ? VAMOS FALE!
- SUA VAGABUNDA!
Eu acertava o rosto de Amanda com uma tapa que pela dor em minha mão eu já previa o ocorrido. O sangue descia da testa de minha filha pelo rasgo causado pelo meu anel.
- SEU FILHO DA PUTA!
Eu não me arrependia. Era aquele sangue que eu queria ver fazia tempo.
- PAULO! OLHA O QUE VOCÊ FEZ NA MENINA!
Alice danava a chorar enquanto acudia Amanda. Paulinha danava a chorar de seu quarto.
- EU VOU TE DENUNCIAR PARA A POLÍCIA, SEU MONSTRO!
Aquilo me fervia ainda mais o sangue.
- TOMA!
Acertava-lhe mais uma tapa que sem querer acertava de raspão também o braço de Alice.
- VOCÊ ESTÁ MALUCO, PAULO! PÁRA COM ISSO!
Alice tentava me conter.
- EU SEI PORQUE ELE NÃO ME QUER COM ROBERTA!
Eu me via surpreso com o tom ameaça de Amanda.
- O que você está querendo dizer, filha?
Perguntava Alice aos prantos.
- ROBERTA ME DISSE QUE JÁ SE DEITOU COM ELE!
- REPETE O QUE DISSE SUA PROSTITUTA!
- É ISSO MESMO! ROBERTA ME DISSE QUE VOCÊ JÁ PAGOU MUITA MACONHA PRA ELA EM TROCA DE UMA BOA FODA!
Alice partia para cima de mim como uma louca. No reflexo, pegava uma tesoura que estava sobre a estante da sala e a direcionava a meu peito.
- É MENTIRA DELA, ALICE! FICOU MALUCA?
Alice não me ouvia e eu não tive forças para a impedir que me fincasse por duas vezes a lâmina. Eu caía desacordado de dor.

- MAMÃE! VOCÊ O MATOU!
- ESSE CRETINO!
- Mas...
- MAS O QUÊ?
Alice estava fora de controle. Parecia não ser ela ali.
- Não era verdade o que eu disse sobre a Roberta.
Confessava Amanda desorientada.
- SUA ORDINÁRIA!
Alice lançava a tesoura feito um dardo rasgando os seios de Amanda, que ao se agachar recebia mais três golpes nas costas. Alice poupava Paulinha porque ouvia meu apelo.
- NÃO, ALICE! NÃO FAÇA ISSO!
Alice então rodava passando a vista naquele cenário de sangue inexplicável. Sem dar um pio, aplicava-se diversos golpes contra o tórax numa violência absurda. Eu nada podia fazer no estado em que me encontrava.

Paulinha e eu sobrevivíamos, mas até hoje, 15 anos depois, nos perguntamos de quem teria sido a culpa de tudo aquilo.

5 comentários:

Anônimo disse...

rodriguinho

muito bom!! abraços

Unknown disse...

culpa da própria alice...
louca de pedra.

aff.



bjo.

Unknown disse...

a culpada é a Geni!

"Taca pedra na Geni, taca bosta na Geni, ela é boa pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni"

brincadeira a parte, a culpada é a Alice que agiu loucamente!

Unknown disse...

ou melhor....
culpados são todos!
ele de ser grosso...
a filha d ser mentirosa...
e ela de ser neurotica...

Anônimo disse...

oO

Muito bom!
gostei da musikinha da geni!hehe
bj