Já
estávamos em 1999, se não me engano. Por algum motivo, o qual não me recordo, a
casa onde a Dark Side ensaiava não estaria mais disponível. Aliás, o meu
primeiro ensaio na banda fora em minha casa por conta disso. Acho que tinha
algo a ver com o fato do Henrique não fazer mais parte da banda, já que a casa
pertencia à família do guitarrista. Precisávamos de um novo QG.
Meu
quarto possuía uns 12m2, e meu irmão e eu dormíamos em uma cama beliche.
Sendo assim, vislumbrei naquele espaço um estúdio improvisado e sugeri que
fizéssemos os ensaios ali. Eu tinha a real noção de que incomodaríamos muito (mas
muito mesmo) os vizinhos, mas tal fato não possui peso algum quando você tem
dezessete anos e uma banda de heavy metal.
Além do mais, minha mãe – talvez a mais afetada com todos aqueles watts de potência – era a favor! E
quando nossa mãe está por nós, quem pode contra nós?
Para
evitar as horas antes perdidas com montagem e desmontagem de equipamentos,
sugeri que deixássemos toda a parafernália armada em meu quarto, full time. Isso ajudou muito na
logística da banda, porque podíamos, Renato e eu, em plena semana de provas,
por exemplo, sair da escola e irmos direto para a minha casa tirar um som.
Estava tudo lá: a bateria de Leonardo, os amplificadores, pedestais,
microfones... Não era muito fácil para minha mãe arrumar aquele quarto – as baquetas
de Leonardo soltavam serragens por todo o chão enquanto ele tocava, diga-se.
Os
ensaios em meu quarto eram bacanas. Tínhamos bastante liberdade e um espaço bem
razoável. Isso sem falar do telefone, que mesmo sendo inútil durante o som, –
não ouvíamos nada naquele ambiente infernal! –, servia para localizar os
atrasados (na maioria das vezes o Leonardo) e até fechar alguns shows, logo
após o ensaio. Não, não, o acesso a internet não era assim tão popular ainda.
Eu não tinha nem PC.
Com
ensaios semanais e uma estrutura mais disciplinada, naturalmente a banda
evoluiu bastante. Mas tínhamos um problema: Quem vai cantar?
Sem
um vocalista oficial, nos ensaios cada um cantava um pouco. Mesmo sabendo da
importância de um frontman,
tentávamos não nos preocupar com o desempenho vocal da banda; sabíamos que
precisávamos de um vocalista, estávamos improvisando. Nosso foco ali estava na
parte instrumental da coisa, que caminhava, lentamente, para o impecável.
Foi
quando resolvemos anunciar (não lembro como nem onde) a procura de um vocalista
para uma banda de heavy metal. E
achamos (não me pergunte como também) o Paulo Mello.
O
Paulo era um cara apaixonado por música, uma verdadeira enciclopédia do rock e um buscador incansável por novos
sons. Ele era um pouco mais velho que nós, era o nosso Bon Scott. Ele nos
apresentou muitas bandas e discos! Paulo já era casado e morava próximo à
escola onde Renato e eu estudávamos, ou seja, próximo também ao nosso QG.
Paulo
tinha muita influência de Bruce Dickinson e, quando pegou o microfone, acho que
pensamos “em uníssono”: “Esse é o cara!”
E
realmente era! Gente boa, cantava bem, gostava mais ou menos das mesmas bandas
que nós. Mas havia um probleminha com cara de problemão a longo prazo. Paulo,
hoje reconheço, estava muito à frente do nosso entendimento de banda. Enquanto
a gente se preocupava em tocar “The Prisoner” (Iron Maiden) de forma idêntica,
por exemplo, Paulo pensava em composições próprias, afinações alternativas e grooves diferentes – provavelmente
influenciado pelo som do Cathedral, banda da qual ele era fã incondicional.
A primeira
composição autoral da então Evil Darkness (sim, nós resolvemos mudar o nome da banda, por estarmos a fim de começar meio que do zero, uma "nova banda") foi a balada “Flying To The Sky”, com
música minha e letra em parceria com Renato; nasceu numa dessas fugas da escola
para minha casa. Mas foi com Paulo que compus nosso primeiro rock de verdade: “Nightlife”, com letra
minha (depois adaptada por Rodrigo) e música em parceria com Paulo.
Como
Paulo não tocava nenhum instrumento, tudo era “de boca”. Lembro que ele chegava
lá em casa e cantava o riff que havia
criado e sempre o intitulava de maneira estranha. Por exemplo, o riff principal de “Nightlife” ele
chamava de “aranha”, por este exigir que a mão esquerda trabalhe sempre aberta,
como uma aranha mesmo.
Um
dos riffs de “The Winner” (música
composta por toda a banda com letra de Wagner Santos, primo de Rodrigo) que
fora inspirado por uma peça clássica mas que não lembrávamos o nome, Paulo
chamava de “o guaraná”, porque, na dúvida, achávamos que fosse “O Guarani”, de
Antônio Carlos Gomes, a fonte inspiradora.
Eu ria
demais com Paulo, este que, apesar de contribuir muito para o crescimento da
banda, nunca chegou a fazer um único show conosco. Ele se mostrava sempre muito
inseguro, como se não estivéssemos prontos para subir num palco com o novo frontman.
Houve
até um a vez em que abriríamos uma apresentação da – novamente eles – Eternal
Flame. Seria a estreia dessa nova formação, enfim, a estreia da Evil Darkness.
Estava tudo certo, nos preparamos para esse show, mesmo com a nítida
insegurança de Paulo.
Mas
não rolou.
Não
lembro dos detalhes, mas apenas de ver Renato pegar o telefone (sim, aquele
mesmo do meu quarto), após uma longa tarde de ensaio, e ligar para Nelson
Hortz, a fim de acertar os detalhes do evento.
–
Como assim não vai rolar? – perguntava Renato.
Alguma
merda eu sei que deu, mas não me recordo qual exatamente. Sei que quem conhece
Renato pessoalmente pode bem imaginar qual foi sua reação ao telefone. Notei
que Paulo respirou aliviado, mas foi a frustração que tomou conta do restante
da banda. Ainda não seria daquela vez...
[Continua]
6 comentários:
Po, vc só esqueceu de comentar sobre a troca de nome da banda, depois que Paulo entrou. Eu nem me lembro por que mudamos o nome... talvez por conta da saída do Henrique, pois resolvemos renovar TUDO... mas não tenho certeza se foi isso. Caso vc lembre, faça uma citação, por favor.
Outra coisa: o Paulo pode ler isso que vc escreve?? uahauhauhauahuahuahauha
Mas virou Over Action ainda com Paulo?
Não, cara. To falando de DARKSIDE para EVIL DARKNESS. Rsrsrs
Over Action já éramos apenas nós 4.
Quero ver a hora que entrar a PA (Andrea). hauhauhauaha Lembra bem dos detalhes?? Rsrsrsrs
Não vejo a hora de ler esta parte! hahahaha
ahuahuahuahua não sei de que detalhes está falando huahuahua
Nada, cara... bobagem... deixe sua imaginação fluir - musicalmente falando. Muita hora nessa calma... Rsrsrsrs
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