segunda-feira, 31 de março de 2008

SEIS DIAS DEPOIS

Gostaria de agradecer a todos que visitam este humilde blog e ao carinho exposto através de comentários, scraps e e-mails. Muito obrigado! Hoje, posto o primeiro conto que publiquei, "Seis Dias Depois". Espero que curtam!

Júlio, apesar de trabalhar duro todo santo dia como vendedor ambulante, gostava de fazer “hora extra” após às 19:00h. Em vez dos produtos que pouco chamavam a atenção dos motoristas/consumidores, a partir daquele horário seu instrumento de trabalho era outro; um antigo revólver calibre 38 que herdou de seu pai, morto quando Júlio tinha apenas dez anos.

Todas as noites os “ganhos” eram certos. Até maiores que durante o dia. Júlio cometia assaltos mas morria de medo de ter de usar um dia aquela peça arcaica e enferrujada que carregava na cintura. De tão nervoso, nem olhava nos rostos de seus alvos. Apenas repetia aquela frase decorada com dificuldade: “Perdeu, perdeu”.

Até que em uma dessas ações o rapaz foi surpreendido, pela primeira vez, por uma vítima que embora parecesse inofensiva e medrosa reagiu ao assalto tentando lhe aplicar um golpe de defesa pessoal. Júlio não pensou, atirou, não olhou, jogou o corpo logo à frente num desfiladeiro e correu.

Em casa, chorou. Chorou, se culpou e prometeu que dali por diante trabalharia somente até às 19:00h. Era o fim dos “extras”.

Dois dias depois, 06:00h. O despertador emite o aquele temido e odiado som que parece dizer com todas as palavras: “acorde e tenha um péssimo dia”. Júlio acorda. Mas antes, como em todas as manhãs, dá um murro no aparelho que acabara de interromper o sonho mais belo de todos os seus 17 anos de vida. O rapaz quase nunca se lembrava de seus pensamentos noturnos e achava que isso tinha um motivo bem lógico; tinha o sono pesado demais. Mas naquela noite tinha sido bem diferente.

Júlio amanhecera com a impressão de ter sonhado aquela história mágica da hora em que se deitou, às 23:00h, até o momento em que se levantou da cama. Ele teria encontrado uma menina que, segundo o sonho, era a sua verdadeira alma gêmea. Aquela cujas qualidades eram infinitas e os defeitos nulos. Aquela que possuía uma personalidade que se encaixava perfeitamente em tudo aquilo que Júlio um dia pôde esperar de uma garota. Ele não sabe de onde ela veio e nem tampouco como ela apareceu em sua “vida”, mas lembra de sua graça: Míriam.

Foram sete horas de um romance perfeito. Passeios de mãos dadas por lugares jamais vistos por Júlio. Beijos que se desenvolviam em total harmonia com a canção que ouviam ao fundo. Carinhos tão sinceros que fariam qualquer sonhador duvidar que aquilo tudo era mesmo real. E infelizmente não era.

Júlio acordou com a imagem de Míriam na cabeça. Agia como se tivesse voltado aos seus 13 anos, no dia em que dera seu primeiro beijo. Abobalhado e rindo atoa, ele parecia não acreditar que aquilo tudo tinha sido apenas um sonho. Começava então, a partir daquele momento, uma busca incansável por Míriam. Procurava sem sucesso em todos os rostos, seja na rua, no ônibus, nas revistas, na TV, o semblante de Míriam. Nenhum deles chegava aos pés da beleza reproduzida por sua mente à mulher protagonista do sonho daquela noite.

Ele não guardou para si a sua procura. Contava a todos os colegas – que riam muito – sobre o tal sonho. Chegou a ponto de procurar por garotas que se chamavam Míriam. Mas nada disso o levou de encontro à sua paixão.

Mais alguns dias se passaram. A imagem de Míriam já não era mais tão nítida em sua mente. Durante esse tempo, Júlio parecia ter abordado todas as possíveis “Míriams” do planeta.

Júlio se perguntava: “Por que não sonho novamente com ela?” Ele não entendia o por quê daquele sonho. Por qual motivo ela apareceu e lhe deixou assim dessa forma. Apaixonado.

No dia seguinte, ao ler a primeira página do jornal, se depara com uma foto 3x4 daquela que teria transformado sua vida por alguns dias numa busca intensa pela felicidade. Com os olhos arregalados e uma sensação ótima de reencontro, Júlio imediatamente leu a notícia que se referia à fotografia:

“Policiais finalmente encontram corpo de Míriam Lopes dos Santos, próximo a um desfiladeiro. Assassinada com um tiro no peito, a menina estava desaparecida há seis dias”.

Conto publicado originalmente em 17 de abril de 2007 no fotolog.com/lucianofreitas.

2 comentários:

Chris Ferlon disse...

carai... ._.

ahn... não sei o q dizer... tou tentando me colocar no lugar dele... :S

Anônimo disse...

e mais uma das conhecidas mortes de sr. freitas...
conhecia o conto...
e pela 78364837568756 vez... escreves muito bem!

;-)



beijinhos