
Após sair ileso de uma colisão onde morreram todos os outros quatro amigos ocupantes do veículo, quando tinha dezesseis anos, Matheus se sentiu mais vivo e mais pronto do que nunca para praticar suas tentativas suicidas. O fato lhe chocou, mas a sensação vivida ali naquele momento foi uma descoberta. O branco que ele vê toda vez que se arrisca é, segundo ele, prazeroso. A sensação de estar meio desprendido e meio dentro da matéria o faz passar alguns momentos seguintes em total anestesia e detentor de uma enorme coragem.
Alguns amigos sabem das tentativas de Matheus e o alertam para o fato de estar brincando com um caminho sem volta. Com uma filha de dois anos para sustentar, Matheus afirma que não é a morte que ele busca, e sim, o êxtase que se encontra toda vez que se entrega a esses atos inconseqüentes. Na empresa onde trabalha, o rapaz se vê enlouquecido diante de uma reunião importante e a nula chance de fazer suas tentativas para encarar a mesma.
Sua esposa, Mônica, também sabe de sua mania suicida. Convive com a dúvida eterna se Matheus chega ou não a casa ao anoitecer. O amor de Mônica é ainda maior do que o medo. Isso a faz tentar ajudá-lo de todas as formas possíveis. Acha que não é normal um ser humano conviver com essa necessidade louca de estar a um fio da morte por puro prazer ou busca de coragem. Matheus recusa a visita a qualquer profissional que ouse estudar o que se passa em sua cabeça.
Como entender esse estágio de passagem entre a vida e a morte? Como Matheus foi capaz de desenvolver essa “técnica” de segurar-se a vida através da proximidade da morte? Como consegue coragem após a covardia a fim de adquirir uma outra coragem? Confuso?
Certo dia, Matheus precisou daquela dose de adrenalina e daquele branco que o fazia tornar uma outra pessoa tão diferente. Necessitou nascer novamente para enfrentar Mônica numa conversa que colocaria seu casamento na rampa. Matheus engravidou Letícia, um caso antigo, e não sabia como confessar o adultério à esposa. O processo começou e o necessitado deitou-se no meio da, mais uma vez, Avenida Brasil e contou quantos automóveis rasparam seu corpo trêmulo e em transe. Até que um ônibus em alta velocidade não conseguiu desviar e passou por cima daquela cabeça tão complexa de Matheus.
A morte trágica do rapaz deixou para trás não só uma confissão, mas uma covardia, uma coragem não obtida e o entendimento, por parte dos que o rodeavam, de uma mente covarde e corajosa ao mesmo tempo.
2 comentários:
eu acertei! eu acertei!
uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
po, luciano... o metheus era realmente louco de pedra! se eu fosse a monica, já teria amarrado a criatura numa camisa de força faz tempo!
morrer com um bus bem na cabeça deve ser bem ruim.. argh.
beijo.
mente covarde e corajosa ao mesmo tempo? discordo. pra mim é só covardia... rs
e loucura, claro... hahahahaha
=**
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