segunda-feira, 7 de julho de 2008

ELAS V

No dia seguinte, quinta-feira, jurava-me não colocar a cabeça do lado de fora de casa. Eu queria um tempo para pensar em tudo o que estava acontecendo e nos rumos que minha vida, até então sem fortes emoções, estava tomando desde domingo. Desde que avistei Larissa. Tudo o que eu precisava era de alguém mais experiente que eu para me dar umas tapas na cara e colocar-me no prumo novamente. Serginho. Pensava logo no Serginho por conhecer a sorte que aquele baterista tinha com as mulheres. Então o telefonava.
- Serginho?
- Opa.
- É o Charles. Tudo bem?
- Sim, claro. Como vai?
- Bem também, mas precisava conversar com você.
- É sobre a pequena?
Como ele sabia?
- Como sabe?
- Experiência, só isso.
Eu sabia que ele era o cara certo.
- Pois bem, podemos tomar uma cerveja no Jazz Bar essa noite?
- Claro. Eu estarei acompanhando o guitarrista Alexandre Guedes, lembra dele?
- Claro que lembro. Então mato dois coelhos. Faz tempo que não o vejo.
- Passa lá então, no intervalo e depois do show nós conversamos. OK?
- OK!

O Alexandre Guedes na verdade era uma mala sem alça. Eu não gostava muito daquele cara, mas não queria estragar o clima do telefonema com Serginho. Eu esperava com muita fé que Alexandre não ficasse muito no nosso pé. Não queria falar de Larissa com ele por perto. Não tinha intimidade o bastante com ele como com Serginho. Mas uma coisa não se podia negar, o cara era uma fera nas seis cordas. Valia vê-lo tocar, ainda mais com o Serginho na bateria. Seria uma noite perfeita para negar a presença de Larissa. Estaria rodeado de músicos que eu gosto e com uma ótima chance de entender tudo aquilo que se passava entre Valéria, Larissa e eu.

Durante o dia, eu ficava a escutar alguns diálogos entre Valéria e Larissa através de nossas paredes geminadas. Pelo visto os ânimos tinham se acalmado e a paz parecia reinar naquela casa de mulheres loucas. Mas o que Larissa realmente tinha falado à Valéria eu ainda não sabia. Eu esperava que fosse exatamente aquilo que havíamos combinado, de que não nos veríamos mais, a fim de que ela permanecesse por aqui até o fim de julho. Mas eu só ouvia conversas que nada tinham a ver com o caso.
- Tia.
- Oi.
- Está passando aquele filme que você disse que iria ver.
- Qual era mesmo?
- Não sei. Acho que é alguma coisa com “chocolate”, sei lá.
- É! “A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE”! EU AMO ESSE FILME! JÁ ESTOU INDO.
Ora, nada que me fizesse realmente entender o desfeche da confusão do dia anterior. Queria saber o que ambas definiram a respeito do que sentem por mim. Mas era notável que estava tudo bem entre elas. Isso que importava.

Era quase noite quando eu escutava Valéria dizendo que ia à rua comprar cigarros e pão. Escutava a porta se abrir e depois fechar com força. Então contava 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7... Até que minha porta era batida. Eu abria. Era Larissa. Não precisei contar nem 10 segundos.
- Oi Larissa.
- Oi Charles.
- Seja breve, não podemos deixar que Valéria nos veja.
- É que conversei com minha tia. Ela parece ter entendido que não mais o verei.
- Então você fica até o fim de julho?
- Fico. E fico com você, meu amor.
- Que bom!
- Vamos nos ver mais tarde?
- Hoje não, Larissa. Marquei de assistir uns amigos tocarem no Jazz Bar e...
- Posso ir com você?
- É melhor não. A discussão entre nós três ainda é recente. Não podemos dar bandeira para sua tia, lembra?
- Mas é que não me agüento de vontade de te beijar e...
Então eu a puxava para dentro de minha sala e saciava nossas vontades de entrarmos um no corpo do outro pela boca. Batia a porta com os pés segurando Larissa por aquela cintura, mas ela me jogava sobre o sofá. Ela me olhava como se estivesse pronta para ficar a noite inteira ali comigo.
- Larissa! Sua tia foi ali na padaria, não?
- Sim.
- Ela já deve estar voltando.
- Me beija.
Então a beijava mais e mais. Seu agasalho e sua camiseta já se encontravam ao chão. Sem parar de me beijar, posicionava as mãos sobre o elástico de um mini-short querendo abaixá-lo. Eu saía das garras de seus lábios, abria os olhos e avistava uma Larissa alvíssima e nua da cintura para cima.
- Menina! Se vista, por favor.
- Não quer?
- Claro que quero, mas...
- Então me beija.
E começava novamente já com o mini-short na altura dos joelhos e deixando à mostra uma calcinha verde clara comportada que Larissa parecia não querer mostrar.
- Essas calcinhas de velha.
Ela falava rindo enquanto a tirava do corpo.
- PARE!
- Por que, Charles?
- Agora não! Se Valéria chegar e não lhe encontrar virá bater aqui em casa na certa. E se nos pega nesse estado?
- Tudo bem.
Larissa se vestia e eu aos poucos me arrependia do que acabava de sugerir. Na minha vida, algumas mulheres me decepcionaram ao tirarem suas roupas, mas Larissa não. Desnuda, Larissa era capaz de fazer qualquer homem perder a cabeça e desprezar qualquer tipo de conseqüência. Até a morte eu seria capaz de enfrentar para descobrir cada canto daquele corpo, mas não fui capaz de enfrentar sequer a possibilidade de Valéria aparecer. Por que?
- Não fique triste, por favor, é para o nosso próprio bem, você sabe.
- Eu sei Charles. Deixe-me ir. O vejo amanhã?
- Sim. Vê.
- Espero que me procure.
- Procurarei. Prometo.
Larissa saía da minha casa mais uma vez me deixando em frangalhos com meus próprios conceitos sobre as mulheres, principalmente sobre Valéria e Larissa.

Às 21h eu fechava a minha casa com um cigarro na boca e uma carteira quase vazia no bolso rumo ao Jazz Bar. Chegando lá, Serginho se encontrava na porta já sob efeito de algumas doses de whisky e conversando em voz alta com alguns de nossos amigos músicos. Eu já começava a pensar que não seria mais uma boa idéia falar sobre as mulheres com Serginho naquele estado.
- CHEGOU O HOMEM DO TROMPETE! DÁ UM ABRAÇO AQUI!
- Serginho! Você não iria tocar essa noite com o Alexandre?
- E vou!
- Nesse estado?
- É quando toco melhor, meu amigo. Aqui não tem o maestro Walter!
- De fato.
- Quer conversar sobre a pequena?
- Não sei se você está em condições.
- É quando converso melhor.
- Falado. Vamos até aquela mesa. O Alexandre não está aí, está?
- Não. Não chegou ainda. Aquela “estrelinha”.
- Ótimo.

Contava tudo, exatamente tudo que havia ocorrido do domingo até então ao Serginho. Sentia que em certas partes da história Serginho ensaiava um cochilo, mas em outras parecia um lobo selvagem a imaginar o corpo de Larissa.
- E então? O que você acha que devo fazer?
- Sinceramente?
- Claro!
- Coma as duas. Essa Valéria e a pequena!
Eu sabia que não seria uma boa idéia aquele papo com Serginho.
- Fala sério?
- Eu comeria. Um sexo animal a três. O que acha?
- Você está bêbado, Serginho.
- Lhe diria a mesma coisa se estivesse sob efeito da água mais pura de Petrópolis.
- OK! Estou indo.
- Não vai ver o show?
- Não! Tenho duas mulheres para comer essa noite. Esqueceu? Vai para o inferno!
Eu saía do Jazz Bar sem nenhuma solução para toda aquela situação.

Eu havia deixado de me encontrar com uma Larissa coberta de desejos para tentar esclarecer a minha mente com o bêbado do Serginho. Encontrar-me com Larissa naquela noite significaria mergulhar no mais profundo abismo das minhas incertezas, mas conversar com Serginho me fez permanecer na borda do mesmo abismo sem retroceder sequer um passo.

4 comentários:

Unknown disse...

Fiquei uns dias sem entrar na net... como a história evoluiu heim!?!?
Tô me amarrando na série! hehe
E esse Serginho!? aff, q péssimo conselheiro!
hehehe!

Muito bom! Os contos estão cada vez mais interessantes!
Parabéns! xD

Unknown disse...

to be continued...

Anônimo disse...

Quando eles negam, as pequenas sempre ficam furiosas. E odeiam essa sensatez dos mais velhos, como odeiam.
asuHUASHuhua

Muito bom! Ainda continua né?

;)

Anônimo disse...

...sensatez...ai ai
complexo!rs