quarta-feira, 9 de julho de 2008

ELAS VI

Sexta-feira. Embora Mônica Lisboa fizesse naquele mais uma excelente apresentação no Jazz Bar (vide conto “JAZZ” de 25/06/08 nesse blog), depois daquele conselho de Serginho eu não queria pôr os pés naquele lugar tão cedo. Eu havia me comprometido com Larissa que a levaria para assistir um show da Mônica. Mas não iria rolar, não naquela sexta-feira. Eu estava muito confuso e sem saber que decisões tomar diante de minhas conclusões inacabadas sobre “elas”.

O telefone tocava.
- Alô.
- Fala, Charles. É o Serginho.
- Diga.
- Ficou bravo ontem?
- Eu? Imagina! Com duas mulheres para comer? Fala sério, Serginho.
- Olha, ontem eu estava alto.
- Não brinca.
- Desculpe-me. Se ainda quiser conversar, eu tenho a solução.
- Até terça, Serginho.
- Estou falando sério!
- Até terça!
Eu desligava o telefone na cara do Serginho e ficava pensando se realmente eu deveria confiar naquele filho de uma égua. “Eu não vou cair na besteira de ouvir esse cretino novamente, não vou”. Mas a curiosidade me fazia levantar do sofá e ir em direção ao telefone.
- Alô, Serginho? É o Charles!
- Seu filho de uma...
- Calma. Desculpe-me. Estamos quites agora, não?
- Vão se danar você e suas mulheres.
- Vamos, desembucha. Qual a solução?
- Você é um miserável mesmo, não? Dê um pulo aqui em casa.
- OK!
Na mesma hora eu saía em direção à casa de Serginho. Pela hora, almoçaria por lá mesmo.

Chegando à bagunça de Serginho, eu logo era servido de whisky pelo anfitrião.
- Não Serginho. Desembucha primeiro, depois bebemos. Pode ser?
- OK!
- Vamos. O que você tem para mim?
- Bem, estive pensando no seu caso. Você já sabe que a tal da Valéria sempre foi doida por você assim como você por ela, não?
- Sim.
- Agora aparece uma sobrinha, que meu Deus, que sobrinha! E está doida por você também, não?
- Sim.
- Agora me responda uma pergunta. Ainda és doido pela Valéria?
- Acho que não. Acho que passou faz tempo.
- Está doido pela Larissa?
- Você disse um pergunta, Serginho.
- Ora, Charles, não interrompa o meu raciocínio, por favor.
- E baterista lá raciocina?
- Olha!
- Tudo bem, vai, continue.
- Está doido pela Larissa?
- Sim, de certa forma estou, mas acho que não da maneira como ela parece estar por mim. Ela já pensa em irmos juntos a Porto Alegre.
- Pois bem. A tal irmã da Valéria, a mãe da pequena, a...
- Vanda.
- Isso, Vanda. Ela aceitaria você por lá?
- Eu sei lá. Eu nem sei em que condição Larissa me quer por lá. Onde eu moraria? Não pensamos em nada disso. É empolgação dela, só pode.
- Charles. Pense bem. O que você tem por aqui? Além de seu trompete?
- Nada.
- Veja com ela qual será a condição sua por lá. Pode ser uma boa. Pelo que você disse, essa menina tem grana. Pode ser a ponte para você ter uma vida melhor.
- Está sugerindo que me aproveite dos sentimentos dela?
- Pobre Charles. Você como músico deveria ter aprendido que durante toda a nossa carreira nós somos aproveitados de nossos sentimentos o tempo todo e por todos que nos cercam. O que tem de mais em se aproveitar uma única vez?
- Ora, Sérgio.
- É sério.
- O que Porto Alegre teria que aqui não tem?
- Não sei, mas posso lhe dizer o que Porto Alegre NÃO tem e que aqui tem.
- Por exemplo?
- O maestro Walter, a sua casa geminada com aquela louca da Valéria...
- Sei.
- A saudade da Larissa. Logo você também terá isso por aqui.
- OK. Acho que você está certo. Vou nessa.
- Espere. Não vai tomar o whisky? Nem almoçar?
- Não. Eu tenho uma viagem para planejar, esqueceu?

Eu ia direto para a casa de Valéria. Não sabia bem o que eu falaria para ambas, mas estava determinado a deixar meu coração decidir pelo caminho. Eu me sentia forte e ao mesmo tempo fraco em concordar em parte com as idéias de Serginho. O fato é que ele tocou na minha ferida. Fez-me enxergar uma realidade que talvez fosse o pilar de toda a minha confusão. EU NUNCA TIVE NADA! Eu batia à porta de Valéria. Larissa atendia.
- Charles?
- Sim. Vamos para Porto Alegre?
- Mas, o que o fez decidir assim?
- Não me faça perguntas, só me responda.
- Claro que vamos.
- Mas antes precisamos sanar algumas pendências.
- Que pendências?
- Onde eu ficarei por lá?
- Meus pais possuem várias casas na cidade. Algumas estão em meu nome e eu posso fazer o que bem entender com elas. Inclusive hospedar um namorado.
- Está bem. E você acha que seus pais vão aceitar isso?
- Meus pais estão para lá de ocupados com os problemas deles. Eles querem a minha felicidade e se a minha felicidade for você por perto eles aceitarão.
- Ligue para seus pais primeiro e explique tudo. Não quero atrapalhar em nada. Se tudo der certo, chegando lá, vou logo procurar algo para fazer e pagarei por cada dia em sua casa.
- Quanto a isso não precisa se preocupar.
- Bom. Vou para casa. Comunique à Valéria também e me avise caso tenha ficado tudo bem.
- Claro. Ai. Estou tão feliz.
Larissa me beijava com gosto de creme dental. Tudo nela era tão aconchegante e limpo. Eu me sentia apaixonadamente sujo.

Durante quase três horas tudo que eu ouvia da minha sala eram gritos de Larissa com Valéria e vice-versa. Elas brigavam muito por conta de nossa decisão. Eu tocava o trompete com força a fim de ser mais alto que elas, mas não conseguia. Pelo que eu entendia, Vanda, após longa conversa pelo telefone, havia aceitado a condição de Larissa. Ouvia também Larissa lamentar muito pela separação dos pais. Acho que isso acabava ajudando. Vanda devia encontrar-se num estado de carência tão grande que nem deu tanta importância ao namoro da filha com um antigo colega de sua irmã.

A minha porta era batida.
- Oi Larissa.
- Arrume suas coisas. Vamos amanhã. Pode ser?
- Mas assim? Eu preciso entrar em contato com o dono da casa, com o maestro Walter, meus amigos e...
- OK. Vamos depois de amanhã então?
- Sim. Acho que dá tempo de eu me preparar.
- Posso dormir aí essa noite? Com minha tia será impossível.
- Olha...
- Por favor.
- OK. Pode.
- Arrumarei minhas coisas e volto já.
- OK.
- Te amo, Charles.
- Eu também, Larissa.

Minutos depois, Larissa aparecia na minha casa com suas malas e aos prantos.
- Calma Larissa. O que houve?
- Me desentendi feio com tia Valéria, Charles.
- Calma. Vou lhe trazer uma água.
Larissa bebia com o copo trêmulo.
- Obrigada.
- Fique calma.
- Já estou melhor.
- Como foi sua conversa com sua mãe?
- Das melhores possíveis. Ela lembrou de você. Primeiro fez inúmeras perguntas etc. Coisas de mãe. Mas senti que por um lado ficava até feliz por ser você.
- Então aquela história da Valéria de que Vanda não queria que eu me aproximasse...
- É tudo coisa daquela louca. Ela te ama, Charles. Ela me disse. Ela não está aceitando o fato de eu estar com você. É isso.
Eu ficava mudo. Conseguia também ouvir o pranto de Valéria do outro lado da parede. Sentia-me mal por estar sendo parte da causa daquilo tudo. Imaginava a tristeza de Valéria diante da rejeição da sobrinha para dormir com o homem que ela no fundo amava.

As coisas continuavam ainda mais complicadas e tensas para o meu lado. Dentro de dois dias eu mudaria completamente a minha vida sem saber se para melhor ou pior. A mudança era certa, e de fato já estava ocorrendo desde o domingo passado.

4 comentários:

Unknown disse...

"o drama d valéria!"
rs.

vamos ver no que vai dar...

Faby Ecard disse...

olha primeira vez que entro no seu blogger,fiquei impressionada,AMEI....fiquei paralizada aqui lendo,muitoo bom quero ler o resto da historia hem...
de uma passadinha no meu tbm eu fiz ele a pouco tempo,mas msm assim passa por la...

http://cantinhodafabiola.blogspot.com/

bjs meus parabens...

Me chamo Fabiola.... disse...

criei a conta ecard para teste entre nesse aqui...bjs fabiola

Anônimo disse...

Uooow!
Tá certo, tem que se aproveitar mesmo
Aaah, mas é maior estranho essa coisa toda, ele só gosta da guria porque ele é gostosinha. Será que não gosta nenhum pouco dela em si?
USAHUhuaHASUHua, é maior dificil entender essas coisas do mundo masculino!

;)