terça-feira, 9 de setembro de 2008

ELES VI

Antes que eu pudesse terminar a terceira tentativa de saciar minha vontade louca, Oscar batia na porta. Àquela hora da noite, só podia ser ele, pois não esperava mais ninguém. Não obedecia às ordens de Oscar e me vestia com uma calcinha e uma grande blusa de malha surrada que me tapava até a altura da virilha. Eu estava maluca, mas nem tanto. Embora a minha vontade fosse a de agarrar o primeiro que entrasse à porta, exceto “a pedra”, lógico, não atenderia Oscar nua. Mais algumas batidas na porta. “Já vai!” Eu gritava.
- CHARLES?
Eu não podia acreditar. A pedra.
- Vim lhe pedir desculpas. Eu...
- Volte já para a sua casa, Charles. Não quero lhe ver. Respeite minha decisão.
- Não posso deixar que esta noite acabe dessa forma.
- Mas quem disse que a noite acabou? Pode ter acabado para você, Charles.
- Como assim?
Eu não tinha nada que dar corda ao Charles. Que burra.
- É... Nada. É que ainda verei um bom filme na TV e tentarei dormir feliz, ou seja, tentarei esquecer a noite de hoje. Com licença.
Eu fechava a porta sem dar chances a Charles.

Eu permanecia colada na porta tentando ouvir Charles seguindo para casa, mas ainda podia sentir a presença dele frente à minha casa.
- Valéria. Abra essa porta. Sei que estás plantada junto a ela.
E se Oscar chegasse agora? Meu Deus, que vergonha!
- Olá Charles!
Não! Eu ouvia a voz de Oscar. Um diálogo se iniciava enquanto eu, quieta, permanecia a escutar. Que vergonha! Que vergonha!
- O que faz aqui, Oscar?
- Ora, Charles. Pergunte à Valéria. Ah! Desculpe. Acho que ela não quer ver-te nem pintado de ouro, não é mesmo? Lamentável.
- Como foi que...?
- Charles. Eu não gastarei meu tempo com você. Valéria me espera. Com licença.
- Por que não volta para Belo Horizonte, seu...
- Volto. Volto daqui a três semanas, mas antes preciso... Você sabe, não? Preciso aquecer-me em um par de pernas familiar.

Quem Oscar pensava que eu era para falar dessa maneira de mim? “Aquecer-me em um par de pernas familiar”. Mas o que eu podia esperar? Eu acabava de agir feito uma prostituta com ele ao telefone. Atitudes como a que eu tive só me trariam atitudes desse nível por parte desses homens. Eu me enojava com os dois ao ouvi-los discutir. Enojava-me comigo também.
- Pois fique sabendo, Oscar, que antes de aquecer o que já não lhe funciona mais, aquele par de pernas aqueceu a mim. Compreende?
- Quando? Antes de você estragar tudo? Olhe para você, Charles. Não passa de um idiota. Acha mesmo que uma mulher como a Valéria se deitaria com você?
- Por que não? Se Valéria marca de deitar-se com você, Oscar, até os cachorros tem alguma chance.
- Cachorros como você, Charles. Espero que ela tenha tomado um bom banho depois de ter te beijado! Odeio sarnas!
- Sarnas ela pegará de você, seu...

Para mim, bastava! “Chega!” Abria a porta com a força de um leão.
- SOBRE QUEM VOCÊS PENSAM ESTAREM FALANDO?
Eles emudeciam.
- VOCÊS DOIS SÃO IGUAIS! SÃO PEDRAS!
Charles, ainda assim, não tirava os olhos de minhas pernas. Era impressionante a atração que eu parecia causar naquele homem. Oscar olhava para os lados, mas com a culpa nos olhos.
- Eu posso explicar, Valéria.
Ensaiava um discurso Oscar.
- EU NÃO QUERO EXPLICAÇÃO ALGUMA! SUMAM DA FRENTE DA MINHA CASA! AGORA!
Eu batia a porta e voltava para a estaca zero. Que noite esclarecedora eu acabava de ter. Noite que me mostrava o quanto eu estava certa em me manter longe dos homens por alguns meses. Nunca me decepcionara tanto com eles numa só noite. Alguns minutos depois, eu abria a porta novamente para me certificar de que ambos haviam tomado os seus rumos. Não mais estavam lá. Ainda bem.

Charles logo me dava a comprovação de que já se encontrava em sua casa, pois um trompete solitário começava a soar de maneira bem interessante. Eram notas longas, tristes e separadas por pausas mais tristes ainda. As notas não oscilavam e eu chegava a achá-las bonitas e bem tocadas. A melancolia com a qual elas eram executadas combinava com o meu estado emocional. Eu nunca havia escutado aquele disco pela parede geminada que separava nossas casas. Eu conseguia imaginar o outro lado da parede. Um Charles sentado no sofá com uma taça de vinho branco à mão e pensando nas besteiras que havia dito.

Já na cama, eu fumava mais um cigarro. A claridade das luzes dos postes que adentrava pelo basculante de minha janela me permitia imaginar desenhos e formatos não muito lógicos vindos da fumaça que eu soprava para o alto. Via barcos, pássaros, corpos, borboletas e até um guarda-chuva. Minha imaginação era contrária à minha dor. Aquele momento era meu, só meu. Sem filme erótico, sem Charles, sem Oscar, sem a minha mão direita safada e sem ninguém. Fazia-me parar numa retrospectiva de todo aquele dia. Desde o momento em que eu acordava o Charles às 11h até o último trago daquele cigarro. Havia sido o meu dia de derrota. Mas eu não parecia unicamente derrotada. Charles e Oscar também estavam destruídos. Pelo menos a idéia dos dois se “aquecerem” em minhas pernas devia estar destruída.

Eu pensava na possibilidade de ambos estarem arrependidos do que fizeram. Arrependidos da maneira como agiram. Eu me sentia cada vez pior ao lembrar da discussão dos dois. Não podia deixar de imaginar a cena grotesca dos cachorros da rua fazendo fila em minha porta esperando por uma “chance”. Como Charles foi capaz de usar termos tão rasos? Mas por que os usou? Eu deveria não estar julgando as frases de Charles e Oscar, mas analisando o que de fato eu teria feito para que eles as pronunciassem. Eu me sentia uma vadia no mostruário de dois animais insensíveis. Pedaço de corpo. Pedaço de merda. Pedaço de um coração.

[Continua]

4 comentários:

Anônimo disse...

que horrivel cara...
dois ogros; duas pedras!

amanhãã tem maaaaaaaaaaaaisss!!
eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! haha

beijooooooooooo
Nathalia - UCAM

Unknown disse...

e ela vai acabar namorando o "fulano"... enquanto charles e oscar ficarão deprimidos, montarão uma banda de jazz, e beberão por aí, feliiizes para sempre.

ou

se vc acha que ela deve ir embora com oscar ligue para: 0800 XXXXXX

se vc acha q ela deve ficar com charles ligue para 0800 XXXXY

pq o blog do sr freitas é assim...
no final: VC DECIDE.

Unknown disse...

O Blog do Sr Freitas n�o � assim nao.....hehe

Ela mereceu! Desculpa ae gente!rs
Mas nessa hist�ria o que n�o falta s�o erros cometidos em sequencia........

Anônimo disse...

Bem,com o Oscar eu estou decepcionada...O charles me surpreendeu pq pela primeira vez conseguiu tocar algo bonito,acho que a dor esta ajudando um pouco ne??? tadinho :(

em relaçao a Valéria tenho pena dela,nos mulheres sofremos muito por causa de amor sempre sonhamos com algo lindo,mas no final vira tudo um pesadelo...

LuCianooO to amando hem,show....

bjs