quarta-feira, 17 de setembro de 2008

LUANA II - Ensaios de Uma Aproximação

Naquela segunda-feira, Marcos e Patrícia chegavam em casa bem mais cedo que de costume. Celeste, a empregada, anunciava lá da cozinha a presença do casal à Luana, que largava o violão e descia correndo com Mimi ao colo.
- Chegaram cedo hoje! Por que?
Luana questionava.
- Pois é, filha. Vamos jantar juntos hoje.
Marcos sorria ao falar.
- Oba! Viu, Mimi? Papai e Patrícia vão jantar conosco!
Mimi apenas miava.
- Marcos, eu vou tomar meu banho. Celeste, pode por a mesa, sim? Luana, já tomou seu banho?
- Já, Patrícia.
- Então ponha comida para Mimi lá fora e depois venha ajudar Celeste com os talheres, OK?
- OK.
Patrícia sabia impor respeito e organizar a casa sem parecer um sargento.
- Marcos, não vai tomar um banho antes do jantar?
- Não, Patrícia, eu tomarei quando for dormir. O banho me tira a fome.
- Tira, Papai?
Perguntava Luana.
- Tira sim, filha. Pelo menos comigo sempre foi assim.
- Então você pode criar um regime, papai. O “regime do banho”. Que tal?
- [Risos] É, mas não acredito que daria certo com as outras pessoas.
Luana e Marcos ajudavam a Celeste arrumar a mesa com muita descontração. Riam das idéias de Luana, elogiavam o cheiro da comida e até brincavam de espadachins com os talheres. Celeste observava com um sorriso espantado que dizia tudo; jamais vira tamanha união e alegria naquela casa.

Depois de tudo arrumado, Celeste pedia permissão a Marcos para ir para casa. Marcos perguntava à Patrícia se ainda precisaria dos serviços da empregada.
- NÃO! PODE IR, CELESTE! OBRIGADA E FIQUE COM DEUS!
Patrícia respondia ainda no banho.

Era nítida a satisfação nos olhos brilhantes de Luana. Marcos parecia outra pessoa de domingo até então. Mais presente e comunicativo, o pai tirava centenas de sorrisos e gargalhadas – antes tão raras – de Luana. Mimi apresentava ciúmes em seus miados a fim de chamar a atenção de sua dona. Pela primeira vez, a gata cumpria o simples papel de animal de estimação ao invés de amiga, mas é que as piadas e brincadeiras de Marcos faziam a menina soluçar.
- O que houve com você, papai? Está tão...
- Tão?
- Tão engraçado. Sei lá.
- Precisávamos de noites como essa, não?
- Sim, papai. Precisávamos.
- Gosta de estar com o seu pai?
- Claro que gosto!
- Então me dê um abraço!
Luana o abraçava como se nunca tivesse o visto na vida.

Patrícia saía do banho e se deparava com o abraço de pai e filha no meio da cozinha. Recostava-se no portal e ficava observando tal cena com água nos olhos. Assim como Celeste, minutos antes, Patrícia constatava que era a falta desse tipo de relacionamento que fazia aquela casa ser tão fria e silenciosa. Faltava justamente o calor humano e a comunicação entre os três. Patrícia chegava até os dois e os abraçava também.

Durante o jantar, ensaios de uma aproximação aos assuntos e ao dia-a-dia de Luana tomavam Marcos e Patrícia. Luana via que sua vida e seus questionamentos passavam agora a fazer parte das preocupações de ambos. O pai e a madrasta tentavam fazer com que Luana confiasse mais neles. Eles sabiam que seria uma batalha lenta, mas estavam dispostos a tudo para serem mais participantes da vida da menina.
- Luana, seu aniversário está chegando. Podíamos fazer uma festa. Chamar seus amigos. O que acha? Sei que nunca gostou de festas, mas são seus 15 anos.
Sugeria Patrícia.
- Eu não tenho amigos, Patrícia.
- Como não? Estuda numa escola enorme como aquela e não tem amigos?
- Não.
- Explique isso para nós, filha.
Solicitava um Marcos cada vez mais curioso.
- Sabe o que é? Os meninos de lá só pensam em duas coisas; em times de futebol e em meninas!
- E as meninas?
Perguntava Patrícia.
- Em roupas e em meninos!
- E em que você pensa, Luana?
- Ora, em que devemos pensar dentro de uma escola? Eu também penso em meninos, mas eles não são o centro do universo.
- Mas pensa nos meninos como, filha?
- Como?
Luana não entendia a pergunta de Marcos.
- É. De que maneira você pensa em meninos?
Insistia o pai.
- Da mesma maneira que uma menina de 14 anos pensa, ora.
- Mas...
- QUEM QUER SOBREMESA?
Interrompia a afobação de Marcos, Patrícia. Ela também lhe acertava um chute na canela por baixo da mesa.
- EU!
Respondia uma Luana moleca.
- Eu também vou querer [dor].
Respondia Marcos passando a mão no local da agressão.

Depois da sobremesa, Marcos se retirava, deixando Luana e Patrícia a sós.
- Vamos lavar essa louça, Luana?
- Sim. Eu te ajudo.
As duas lavavam e secavam as louças enquanto papeavam.
- Seu pai me falou que Mimi a “diz” para esquecer os meninos que lhe interessam? Como é isso?
- É! Por exemplo, se eu pergunto para Mimi se devo ou não demonstrar o que sinto a Daniel, um menino lá da escola, ela boceja e faz uma cara que eu já até conheço. É a mesma cara que ela faz para algo que não goste. Eu sei que gatos não entendem nossa língua.
- Claro que não, Luana. Espantaria-me se você achasse isso!
- Mas Mimi entende!
Patrícia emudecia e tentava entender até que ponto Luana era inocência e até que ponto era sensibilidade.
- Ah! E sobre o Daniel, não comente nada ao papai, sim?
- Não devia haver segredos entre você e seu pai, Luana.
- Mas é que ele é homem, Patrícia. Você sabe o que quero dizer. Posso ou não confiar em você?
Patrícia parecia ver em Luana um pouco de sua própria adolescência, também cheia de novidades e perguntas.
- Claro que pode, Luana. Mas... Você não disse que não possuía amigos? E o Daniel?
- Nunca trocamos um “oi”.
- E como gosta de um garoto que nunca lhe deu um “oi”?
- Esse tipo de coisa Mimi não consegue me explicar.
Patrícia emudecia novamente.
- Fico feliz de estar conversando com você, Patrícia.
Luana a abraçava.
- Eu também fico, Luana.
Patrícia, como era de se esperar, chegava ainda mais próximo que Marcos ao centro da misteriosa Luana.

[Continua]

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.

9 comentários:

Anônimo disse...

mistérios...
aaai q complicado... essa garota ja deve é ter aprontado.. isso sim!
hahahahha

adoreeeeeeeeeei ;)
beijooo

Unknown disse...

vão ficar amigas!

(continua)

Anônimo disse...

Hum ta ficando interessante....Adorooo..

Anônimo disse...

to na espera pra continuação *-*
aiai essa Luana..
hahaha
beeeijos^^

Provisório disse...

Que bela narrativa.....
otima a ideia do seu blog...e as fotos sao show de bola

Livia Queiroz disse...

Primeira vez que vim aqui, e vou voltar pra acompanhar a historia de Luana!

Eu adoreiiiiiiii
parabéns!!

bjaum

Marih disse...

Hum... Interessante. Posta mais!
Bjimm

Anonima disse...

Nossa, foi voce quem escreveu isso? de qualquer forma, parabéns.
E sabe, não é muito dificil encontrar crianças como Luana, que nesta idade ainda são inocentes e imaturas.


parabens pelo blog
=]

Anônimo disse...

Gostei da história, e gostei do blog tbm