segunda-feira, 22 de setembro de 2008

LUANA IV - Golpe Baixo

À noite, Luana dedilhava algumas notas ao violão tendo Mimi como platéia. A gatinha, deitada, apoiava o focinho sobre as duas patinhas dianteiras e permanecia a admirar a quietude de sua dona com um olhar meigo típico de um felino amoroso. Luana dividia a atenção às notas com o sentimento de distância em relação a Daniel que começava a dar sinais de vida em seu peito. Já cansada da melodia que tocava há meia hora, encostava o violão sobre as pernas cruzadas e acariciava Mimi.
- Sei o que vai dizer, Mimi. Não mais perguntarei a ti sobre Daniel.
Mimi fechava os olhos depois de virar o focinho para o lado.
- Ah! É assim? Vai me ignorar, Mimi? Faz isso não!
Mimi se levantava, dava um salto sobre a cômoda de Luana e lançava o olhar para a rua.
- O que foi ver lá fora, Mimi? Papai chegou?
A gata virava-se para a dona ronronava como nunca antes.
- Mimi! Está ronronando para mim? Por quê?
Luana ia até a janela para ver o que tanto a gata espiava. Era Daniel.

Luana não podia acreditar no que seus olhos acusavam. O que Daniel faria plantado em frente a sua casa? A menina observava, ainda sem entender, a inquietação de Daniel. “Mas ele sequer fala comigo. Não entendo”. Comia incontrolavelmente as unhas sem parar à espera de alguma atitude do menino. Lá de baixo e com o quarto de Luana às escuras, não tinha como Daniel notar a presença das duas. Daniel andava para um lado e para o outro. Passava a mão no queixo, arrumava o cabelo, olhava ao relógio. Parecia esperar Luana para um encontro.
- O que faço, Mimi?
Mimi permanecia como estátua olhando fixamente para Daniel e ronronando baixo.

O carro que trazia Marcos e Patrícia iluminava com os faróis o rosto de Daniel. Eles chegavam para o jantar. Marcos saía do carro para abrir o portão da garagem e achava estranha a permanência do menino frente ao seu portão de entrada.
- Está esperando alguém? Posso ajudá-lo?
- Bem. O senhor é o pai da...
- Luana. Sim sou. Por quê?
- Não. Não é Luana quem procuro. É a Manoela.
- Não. Não mora nenhuma Manoela aqui. Não se enganou de endereço?
- Acho que não. Rua 20 de Julho nº 458. Não é aqui?
- Sim. Estranho.
Respondia Marcos.
Luana tentava entender o que seu pai e o menino que ela não tirava do pensamento estavam conversando. Nenhuma idéia do que poderia ser lhe vinha à mente.
- O que está havendo, Marcos?
Perguntava Patrícia de dentro do carro.
- Esse menino está com o nosso endereço, mas com o nome de uma pessoa que não mora aqui. Sabe se há alguma Manoela pela vizinhança?
- Não conheço – respondia Patrícia – Pergunte à Luana!
- Bem, vou perguntar à minha filha se ela conhece alguma Manoela. Agüenta aí.
- OK.

Marcos guardava o carro e entrava a chamar Luana.
- LUANA!
Luana gelava. Em sua cabeça se passavam mil coisas. “Será que Daniel descobriu meu sentimento? Será que ele veio falar com meu pai sobre isso? Mas antes de falar comigo? Não pode ser! Não estou entendendo nada”.
- JÁ VOU!
Luana descia a escada. Mimi permanecia no quarto, sobre a cômoda. Luana descer a escada sem a companhia de Mimi chagava a ser exótico.
- O que houve papai?
- Filha, você conhece alguma Manoela que more por aqui?
- Sim, papai. No 470, lá no fim da rua. É a única que conheço. Ela é da minha sala, na escola.
“Manoela?” Pensava Luana. “O que Manoela tem a ver com isso tudo?”.

Manoela era uma das meninas mais antipáticas de sua classe. Embora morassem na mesma rua e dividiam a mesma sala de aula, ambas não se falavam. Todas as qualidades de Luana se apresentavam de maneira oposta na personalidade de Manoela.

- Tem um menino aí fora à procura dela. Pelo visto ele errou o endereço. Vou avisá-lo.
- NÃO!
- Como, filha?
- Deixa que eu o aviso, papai. Eu o conheço. O vi lá de cima. É lá da escola.
- Tudo bem.
Luana seguia até o lado de fora da casa a fim de entender aquela história. Seu coração acelerava, porém, se sentia contente em finalmente ter a oportunidade de falar com Daniel sem o risco de ser patética.

Com os pés já no quintal, Luana abaixava a cabeça, respirava fundo e no erguer do semblante de maneira suave, ajeitava a franja que lhe caía sobre os olhos. A primeira visão que tinha era a de um corpo feminino bem mais desenvolvido que o seu a pendurar-se no pescoço de Daniel durante um beijo escandaloso. Era Manoela realizando-se sob os braços do menino que a acariciava a cintura e as nádegas afoitamente. Boquiaberta, Luana paralisava-se.
- Parece que ele já a encontrou, Luana.
Dizia Marcos em pé à porta.
Os punhos de Luana se cerravam expressando raiva. “Essa filha de uma...”. Manoela olhava para Luana e jogava um sorriso malicioso. Mostrava posse sobre o rapaz que pelo visto sequer notou Luana. Pegava então Daniel pela mão e o puxava em direção à sua casa, no fim da rua.

Luana dava uma meia-volta brusca e com passadas fortes passava por Marcos feito flecha em direção ao seu quarto.
- O que houve, Luana?
Marcos ficava sem resposta.
- Você viu isso, Patrícia?
Perguntava Marcos.
- Vi, mas não entendi.
Patrícia omitia qualquer desconfiança.
- Viu, Celeste?
Marcos agora à empregada.
- Vim sim, senhor. Mas também não entendi nadinha.
- Eu vou lá falar com ela, Marcos.
Dizia Patrícia.

Luana desabava em sua cama a chorar. Mimi saltava para o lado de Luana e se acomodava nas curvas da menina.
- Ela fez aquilo de propósito, Mimi. Agora entendo aquele bilhete. Entendo tudo. Ela quis me mostrar a quem o coração de Daniel pertence. E ela conseguiu.
Mimi adormecia.

Patrícia batia à porta do quarto de Luana.
- Luana! Você está bem, querida?
- Não! Mas entre, Patrícia!
Luana respondia soluçando.
- O que houve, Luana?
- Você viu... [choro]. Você viu... [choro].
- Vi. Mas pare de chorar, vamos. Acalme-se. Aquele era o Daniel, pelo visto.
- Uhum...
- Eu desconfiei. Então pare de chorar, sim? Nós vamos jantar e depois subimos para que me conte tudo, OK? Combinado?
- Uhum...
- Agora me dê um abraço.
Luana a abraçava e se sentia um pouco melhor.
- Estou com você, Luana. Confie em mim.
- Eu confio... [choro]. E muito!

[Continua]

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.

8 comentários:

Leonardo disse...

Muito boa a história!

Abraços!

Anônimo disse...

:O

não creio...
que abuso!

aaaaii.. tadinha
retire o que eu disse, a luana não aprontou nada!
sofre mais que a maria do bairro...
hahahah

beijoooooooo

Livia Queiroz disse...

To adorando!!!!

Aguardo os proximos acontecimentos!

Anônimo disse...

tadinha da Luana mas pelo menos agora ela pode contar com a Patrícia ;)
Aguardo os proximos acontecimentos! [2]

beijos, Lu.

ahoradabalanca disse...

comecei a ler agora e já odeio a tal de Manoela! kkkkk
gostei, prende atenção!
bjos e parabéns!

http://horadabalanca.blogspot.com/

Anônimo disse...

essa tal de manoela... aff!

Anônimo disse...

Ai que legal!
Eu vou ler os outros posts também,pelo visto são todos bons! :D

Raisa Bastos y Rodrigues disse...

sem o risco de ser patética.
... ainda não consigo tal proeza :)