terça-feira, 30 de setembro de 2008

PELA CIDADE II - Curiosidades do Meio-Dia

Eu almoçava em um restaurante bem bacana no outro lado da rua. Havia um cardápio à minha mão e eu então fazia o pedido. Tudo pago pela da empresa, claro. Quando eu simplesmente fazia as entregas, na hora do almoço era pegar um prato e seguir a fila dos self services. Alimentar-me daquela comida infestada de espirros e tosses alheias não fazia mais parte de minha rotina. Progresso, leitor! Progresso!

Eu e meus colegas de repartição sentíamos o perfume das mulheres mais belas e bem sucedidas da cidade. Algumas nem eram assim tão importantes e estavam em busca de emersão. Logo, almoços na companhia de seus respectivos chefes e sorrisos forçados diante de piadas sem graça e até de mau gosto faziam parte do mundo daquelas... Deixa.

Naquele período de minha vida, um terno, ou melhor, vários ternos faziam parte do meu vestuário profissional. Não mais pingava sob o sol quente dos verões cada vez mais cruéis. Eu ligava o ar condicionado e pronto. Refrescava-me quase ao orgasmo e contribuía para o inferno dos que, como o meu passado, vagavam do lado de fora. Eu estava sentindo o gostinho de ser inconseqüente. Era tão engraçado agir de forma irracional e ainda ter sua posição almejada por alguns. Mas voltando à refeição...
- Diga, Jorge. Como andam as fêmeas?
Perguntava-me Cícero, um dos colegas à mesa. Éramos tudo e éramos nada ao mesmo tempo. “Fêmeas”?
- Ora, Cícero. Elas andam pela cidade a nos maltratar. Eu tento desviar, mas não consigo! [Risos].
- Conte-me uma das suas, Jorge.
- Quer ouvir? OK! Nos correios. Naquela agência ali da esquina, sabe qual é?
- Sim, sim.
- Então. Vá até lá quando quiser e repare os olhos da atendente do guichê três.
- Por quê?
- Verás os olhos mais verdes e lindos do universo. Tomei uns sucos com ela.
- Sucos? Como assim?
- Isso. Sucos. Ela não quis que eu bebesse, pois confiei minha companhia até a sua casa.
- Olha só! Já traçou o par de olhos, pelo visto.
- Não, não. Desisti.
- Mas por quê?
- Pois ela é a dúvida em forma de gente.
- Dúvida és tu! Não te entendo! Precisas de conclusões para traçar um par de olhos? E verdes!
- Porque não teve a dúvida que tive.
- E qual foi?
- Acho que é ex-prostituta.
- O QUÊ?
- Isso mesmo que ouviu. Ela deu entender que é uma ex-profissional do sexo.
- E você? Ficou com medo de quê?
- Ora, ora. Quando vir os olhos dela entenderá!
- Devem ser demais, pelo que me fala.
- E são! Os mais belos que já vi. Não mais vou àquela agência. Minhas cartas agora eu envio próximo à minha casa. Lá, diferente dali, só tem uma atendente. Feia e gorda!
- Você é maluco, Jorge! Pois saiba que vou lá conferir esses olhos assim que sair daqui. Tenho umas correspondências mesmo.
- Vá. Só depois não me diga que não lhe avisei.
- OK!

Cícero ficava apontando para os olhos que zanzavam por aquele restaurante.
- São mais bonitos que aqueles?
- Muito mais!
- E aqueles?
- Mil vezes!
- E aqueles?
- Está brincando, Cícero!
- Ah! E aqueles ali de mãos dadas com o careca? Os olhos da tal atendente são mais bonitos que aqueles?
Era a própria Catarina adentrando ao recinto.
- É ela! É ela! Merda!
- Nossa! Não brinca, Jorge!
- Juro!
- Nossa! Você estava certo, Jorge! São lindos!
- Não disse? Não quero que ela me veja aqui.
- Por quê?
- Porque não mais a procurei, ora! Na certa o careca tomou o meu lugar.
- Será?
- E você tem dúvida?
- Não. Aliás, quem entende de dúvida aqui é você, não?
- Não brinque. É sério. Aposto que ela largou a agência e voltou para a “vida”.
- Não julgue assim, Jorge.
- Ela me disse que não agüentava mais aquele emprego. Esse aí deve ser muito mais rentável e prazeroso, não acha?
- Jorge, Jorge!
- Vou embora. Se quiser ficar, esteja à vontade!
- Espere-me. Eu vou também.
- Então vamos.

Catarina lançava seus olhos contra os meus assim que me levantava. Eu ficava vermelho de vergonha. Ela sorria. Não parecia estar furiosa comigo.
- Ela sorriu para você, Jorge! Estava errado, viu?
- Elas estão a nos maltratar, Cícero. Aprenda. Desviar é preciso às vezes.
Catarina pedia licença ao careca que a acompanhava e vinha em minha direção.
- Segura aí, Jorge. É contigo. Fui!
Deixava-me diante dos olhos verdes, Cícero.

- Olá Jorge!
- O... Olá Catarina, como vai?
- Bem e você?
- Bem também. Não sabia que almoçavas aqui.
- Não almoço. É a primeira vez que entro nesse lugar.
“Pergunto ou não pergunto?” Resolvia perguntar:
- Quem a acompanha?
- Como?
- Aquele senhor que está à sua mesa. Quem é?
- Curioso!
- Ora, não precisa responder se não quiser.
- Curioso!
- Sim, sou curioso.
- Por quê?
- Não comece, Catarina! Você não me responde nada e me enche de perguntas!
- Quer mesmo saber quem ele é?
- Quero!
- Curioso!
- Ora, deixe-me ir, sim?
- OK. Nos vemos por aí!
- (Espero que não) Claro! Até!
- Até!

Dentro do restaurante havia uma livraria, a Come Letras. Eu entrava e comprava um livro de bolso da Ruth Rendell. Do lado de fora, Cícero me esperava ao cigarro.
- Ruth Rendell? Não sabia que você lia romances policiais.
Dizia Cícero.
- Não leio muito. Mas as mulheres se sentem atraídas por leitores de romances policiais.
- E como sabe disso? Já pegou alguma com esse truque?
- Nunca. Mas eu sei que isso as atrai.
- Ora, Jorge. Você é um artista mesmo.
- É. Eu sei disso também.
- Mas e então? O que a Catarina lhe disse quando eu saí?
- Nada.
- Estava furiosa com seu sumiço?
- Nem tocou no assunto.
- E o careca? Quem é?
- Curioso!
- Eu curioso?
- Não! Eu! Ela me chamou de curioso. Apenas isso.
- Mas você...
- Esqueça. Vamos para a repartição. Os olhos de peixe morto nos esperam.

[Continua]

* * *
Foto da Capa por: Gabriel Andrade [meinframer].

14 comentários:

Kayo Medeiros disse...

Rapaz... eu até ia fazer um comentário e tudo mais, só que... curioso! rá! show de bola! ^^

Anônimo disse...

que conto mais... curioso!
rs

(perco a seriedade do conto, mas não perco a piada!)

Neuro-Musical disse...

Curioso!
auhuhahhauhuah
Gosteei do conto kraaaa!

http://mundop-o-p.blogspot.com

Anônimo disse...

ODEIO ISSO!
caraca que mulherzinha...Deixa.
ahahahahaha
to amaaaaando lu!
PARABÉNS!

Janaina W Muller disse...

Agora sou eu quem ficou curiosa! Quero saber como continua :D

Abraços.
='-'=

http://nerdezasaleatorias.blogspot.com/

Livia Queiroz disse...

putzzzzzzzzzzzzzz
admito admito...eu sou CURIOSAAAA
quem era o careca?? queme ra??

Nossa Catarina maltrata mesmo

wow

Roendo as unhas de curiosidade esperando anciosa o desenrolar dos fatos! hehe

wind disse...

Como não vejo seu mail venho responder que pode usar a foto e com o link dos olhares.
Passe bem:)

Erich Pontoldio disse...

Ta ficando mais interessante ... catarina ta foda heim?

Anônimo disse...

aiii essa Catarina ta me dando nos nervos! O que custa responder umas perguntinhas?!
fiquei curiosa pra saber o que irá acontecer!! aguardo a continuação :)

beijos.

Yara Lopes disse...

NOssa
muito bom
to super curiosa
tudo dele é Deixa
isso da um suspense

Parabéns pelo conto

Ronaldo Santos disse...

Conta o resto...

Agora quero saber, é ou não é?

Muito boa a história, me prendeu a atenção.

Abraços.

Provisório disse...

Quero ver a continuacao....Curioso!

Maranganha Abilolado disse...

Agora quero ler os romances policiais para xavecar as moças de olhos verdes dos guichês três!

Luiz Augusto disse...

também vou querer continuação!