terça-feira, 5 de maio de 2009

MINHA PRIMA LUANA

- Hoje à tarde, iremos à casa de meu primo Marcos.

Tive dúvidas diante daquela frase de minha mãe.

- Primo Marcos? Não conheço! – eu dizia.
- Conhece sim, Douglas, só que não se lembra. Na última vez que vocês se viram, você devia ter uns três anos. Luana nem era nascida, eu acho.
- Luana?
- Sim. Luana, sua prima. Filha de Marcos. Ela deve estar hoje com uns quinze ou dezesseis anos.
- Nunca me falou sobre eles, mãe!
- Eles são distantes mesmo. O Marcos é dono de uma pequena rede de supermercados. É um homem muito ocupado.
- E por que vamos lá? Aniversário de alguém?
- Não. Marcos nos ligou esses dias pedindo para que passássemos lá. Parece que ele quer solicitar os serviços advocatícios de seu pai.
- Entendi.

Era um domingo ensolarado e eu queria muito mais que uma tarde em família. Todos os meus amigos lá do prédio estariam assistindo a final do campeonato estadual de futebol na casa de Chupeta. E eu? Provavelmente assistindo meu pai contando as suas fabulosas histórias de fórum.

Conforme combinado, lá estávamos, às três da tarde, na casa do primo Marcos. Meu pai, minha mãe e eu. A casa era muito bonita. Ficava numa rua arborizada e calma. Na frente, uma cerca pintada de branco combinava com as esquadrias. Notei que numa das janelas, no segundo andar, havia um gato, que se levantava meio assustado.

- Será que é aqui mesmo? – perguntava meu pai.
- Pelo endereço, é sim. – dizia minha mãe.
- Toquem a campainha, ora. Só assim saberemos. – eu cortava com rispidez aquela dúvida idiota.

Meu pai tocava.

A porta da casa se abria. Uma senhora vinha nos atender:

- Olá – dizia aquela senhora.
- É aqui que mora o Marcos? – dizia meu pai.
- É sim. Vocês sãos os primos dele?
- Sim, somos. – dizia minha mãe.
- Prazer. O meu nome é Celeste, sou a empregada da casa. Entrem, por favor. Marcos os aguarda.

Nós entravamos.

O primeiro cômodo, a cozinha, nos trazia um cheiro bom de bolo de chocolate recém saído do forno. De lá, avistávamos, à sala, Marcos, sua esposa Patrícia e sua filha Luana. Depois vim a saber que Patrícia não era mãe de Luana, mas madrasta.

- Quanto tempo! – dizia o primo Marcos com empolgação.

O Marcos tratava de apresentarmos uns aos outros. Depois disso, sentávamos todos frente à TV.

Eu notei que o gato – que depois soube ser uma gata, a Mimi – já estava no colo da Luana.

- Ele é rápido, hein! Cheguei a vê-lo lá em cima – eu dizia à Luana.
- Não é ele. É ela. Na certa veio me avisar da visita. – dizia Luana sorridente.

Diante daquele domingo chato (nem a final do jogo eles assistiam ali), eu não teria escolha, a não ser papear com o único ser de idade próxima à minha: Luana.

- Nossa, como nossa família deve ser grande. Nunca soube de sua existência, Luana.
- É sim. É muito grande mesmo. Há alguns meses atrás, por exemplo, conheci um outro primo meu, o Rômulo. Daqui a pouco ele está aí, inclusive.
- Ah! Sim! O Rômulo! Eu conheço. Que toca piano e tal... Ele é meio esquisito, não?
- Esquisito? Como assim? – respondia uma espantada Luana.
- Ah, só vive tocando aquele piano. Não sai de casa quase, não faz nada de divertido...
- Ué, mas tocar piano é divertido para ele!
- Mas aquelas músicas? Parece um velório.

Eu sentia que Luana ficava séria.

- Mas... Espere aí – eu dizia – Estou me lembrando de você! Você passou o último Natal lá na casa do Rômulo, não foi? Rômulo me falou sobre você!
- Sim, passei. Pelo menos parte do Natal – ela ria graciosamente – É que somos namorados.
- Ah...
- E você? Não lembro de ter lhe visto por lá.
- É que passei em casa mesmo, com a família da parte de meu pai.
- Entendi.

Após certa pausa:

- Você conhece a Gisele? – perguntava-me Luana.
- A nossa prima? Sim, conheço.
- Ah...
- Por quê?
- Não, nada.

Na certa todo aquele “mole” que Gisele dava para Rômulo já tinha causado algum estrago.

- Será que podíamos ver o jogo da final? – eu perguntava.
- Jogo de quê?
- De futebol ora! É a final do campeonato estadual, Luana. Está passando na TV! Para que time você torce?
- Não possuo time. Na verdade, aqui em casa, ninguém se liga muito em futebol.
- Ah...

Eu passava a entender a afinidade entre Rômulo e Luana. Que menina esquisitinha, meu Deus! Ela é uma gracinha, eu confesso. Lá no meu prédio, Luana estaria entre as cinco mais gatinhas. Mas com essa personalidade...

- Você costuma ir à praia? – eu perguntava.
- Da última vez que fui não foi nada legal... E você?
- Sim... Vou sempre.
- Por que perguntou? Acha-me branca demais? – ela levemente sorria; achava graça.
- Não, imagina.

A pele branquinha de Luana era até um charme.

Rômulo chegava e cumprimentava a todos nós. Ele trazia uns três CDs e uma flor de papoula, que logo usou para enfeitar o cabelo de Luana. Eu começava a me sentir sobrar naquela sala. Levantava-me e me dirigia até o papo chato de meu pai e Marcos. Mas, de lá, pude ouvir uma frase que muito me fez pensar:

- Gosto tanto do seu jeitinho, Rômulo – dizia Luana.

Em terras onde o conteúdo intelecto-sentimental parecia valer mais que tudo, as minhas paixões pelo futebol e pelos videogames se assemelhavam, talvez, ao cocô de Mimi. Mas era tão bacana ver os dois juntos. Um lindo casal.

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana em
Luana, Duas, O Natal de Luana, Gisele, Janeiro Meu e Verdades de Luana.
Mais histórias sobre Douglas em Tapete Testemunha I e II, Aquele Verão e Aquele Natal.

8 comentários:

Janaina W Muller disse...

Caaara, eu não consigo gostar do Rômulo. Encrenquei de verdade com esse personagem 'oaioiaoisoaisoaisoaiso.
Prefiro o Douglas o/ E é legal ver como tantos personagens estão interligados... :D

Abraços
='-'-

Nathalia disse...

ahahahaha

mto bom! bem divertido!

Rômulo, todas as suas atitudes são suspeitas....

haha

Unknown disse...

luana está de voltaa!

rs

CAMILA de Araujo disse...

Luana vooltou!

Mais um ótimo conto :D

www.conto-um-conto.blogspot.com

Anônimo disse...

owwww, que lindo! *-*

quem diria que Douglas e Luana eram parentes?! haha

adorei a volta dela :D

bjo

Lucas disse...

A coitada da prima ficou deslocada. =/

Também acho que é um lindo casal.

Gostei.

Abraço Luciano.

Livia Queiroz disse...

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah primo novo?
Ai ai viu?

Saudades da Luana, putz, é tão leve lê-la.
Adorei essa parte:

"Em terras onde o conteúdo intelecto-sentimental parecia valer mais que tudo, as minhas paixões pelo futebol e pelos videogames se assemelhavam, talvez, ao cocô de Mimi."

Mas acho que nesse caso ae, até o cocô de Mimi é mais valioso! huahuahauhaahua


Adoreeeeeeeeeei Luciano...
bjoks

Vanessa Sagossi disse...

Mas que família grande.. Só quero ver o que esse garoto vai aprontar...