quarta-feira, 23 de abril de 2008

A ENTREGA

A chuva não dava trégua naquela sexta-feira. Seis e meia da tarde, uma multidão fazia o centro da cidade parecer um enorme mosaico humano enquanto Ronaldo assistia tudo da janela de seu escritório, no vigésimo oitavo andar. O movimento rápido e intenso do fluxo de pessoas atravessando a avenida principal era constantemente iluminado por flashes vindos do céu. Raios e trovões se apresentavam a Ronaldo como um espetáculo de luz e som.
- Dr. Ronaldo.
O chamou a Cláudia, sua secretária.
- Sim?
Respondeu Ronaldo assustado por ser interrompido num momento em que observava o mundo desabando lá fora.
- É que todos os funcionários já foram e como pode ver está uma chuva tremenda. Gostaria de saber se o senhor ainda precisa de minha presença.
- Desculpe, Cláudia. Estava aqui na janela e nem me dei conta da hora. Está liberada. Desculpe, sim?
- Tudo bem Dr. Ronaldo.
- Como irá para casa nessa chuva?
- Meu noivo ficou de me buscar. Pediu para que eu ligasse quando tivesse saindo.
- Ah!


Pausou, olhou para o chão e subiu o olhar lentamente pelas lindas pernas de Cláudia, passando pelo quadril, barriga, seios e enfim, o rosto. Pensou que no alto de seus dois anos de viúvo, nunca tinha sentido tamanha vontade de possuir do corpo de sua secretária. Cláudia permaneceu calada e notou o olhar ascendente de Ronaldo.
- Então posso ir?
Cortou o clima, Cláudia.
- Espere. Não ligue para o seu noivo. Se não for incômodo, gostaria de conversar por uns minutos. Aqui no escritório mesmo.
- É que...
- Não negue, por favor. Se quiser ligar, ligue e diga que está tudo bem, mas que demorará ainda a sair por motivos de trabalho. Pode ser?
- Mas...
- Ótimo. Sente-se.

Cláudia ajeitou a saia, colocou sua agenda na mesa de Ronaldo e atirou:
- Não posso demorar, Dr. Ronaldo. Diga. O que queres?
Ronaldo tirou o paletó, afrouxou a gravata e foi direto ao assunto:
- Bem, já que tens pressa, vou ser rápido. Você trabalha comigo há anos e posso te dizer que pouquíssimas vezes eu reparei seu rosto como hoje. Como você sabe, minha esposa morreu faz uns dois anos e acho que a solidão tem me atingido profundamente de uns meses para cá.
- Onde quer chegar, Dr. Ronaldo?
- Calma. Eu acho que você já deve desconfiar. Sei que tu és noiva, porém, nunca fui de guardar sentimentos comigo. Sempre os coloco para fora. E o que ocorre é que desde o momento em que entrou na minha sala há cinco minutos atrás, senti por ti um tesão incontrolável. Perdoe-me. Sei que é embaraçoso para você...
- Dr. Ronaldo. Nunca imaginei ouvir isso do senhor. Estou chocada. Sabia que posso te denunciar? Isso é assédio sexual!
- Cláudia, não compliquemos as coisas. Sou homem e você mulher. Tenho tesão e acredito que você também tenha.
- Dr. Ronaldo?
- É isso mesmo. Se você não está afim, basta me dizer “não” e pronto. Na segunda-feira agiremos como se nada tivesse acontecido.

Nesse momento, um enorme estrondo é ouvido. Um raio atinge a rede elétrica e o recinto fica em total escuridão.
- Ai meu Deus!
- Calma Cláudia. Está tudo bem. Logo a luz volta. Eu tenho umas velas aqui no armário. Posso acendê-las para que não fiquemos no escuro.
- Não.
Dispara Cláudia.
- Não quer as velas?
- Não. Deixe assim como está.
Os vultos de ambos só eram perceptíveis quando um raio rasgava os céus. O celular de Cláudia toca.
- É meu noivo.
- Pede para ele lhe buscar. Será melhor.
- Não.
Desligou o celular, aproveitou o negro que tomava toda a sala e se despiu sem fazer barulho. Ronaldo ficou em total silencio sem perceber absolutamente nada.
- Por que não o atendeu?
Cláudia permanece muda. Completamente nua, ela se levanta. Apalpando a borda da mesa de Ronaldo para se guiar na escuridão, foi chegando até o chefe, que se encontrava de cabeça baixa pensando na merda que acabara de falar para sua secretária. De pé, já ao lado da cadeira do arrependimento em pessoa, Cláudia encosta um seio no rosto de Ronaldo e conduz a mão do mesmo até o outro. Outro raio volta a clarear o escritório, mas Cláudia tapa os olhos do chefe e se entrega por inteira. Um sexo voraz ao som de estrondos e chuva tomou conta da cena. Entre gemidos e respirações ofegantes, só se ouvia uma fala de cada um:
- Por que? Por que resolveu aceitar o meu pedido?
- Eu tenho tesão, Dr. Ronaldo. Mas acima do meu tesão está a minha vergonha!


Conto originalmente publicado em 09 de novembro de 2007 no fotolog.com/lucianofreitas.

2 comentários:

Anônimo disse...

me lembro...
me lembro...

até hj vc está devendo o conto do coitado do noivo, po!

beijo.

Anônimo disse...

Hahahahaha!
Esse me fez rir muito, nossa.

:D