quarta-feira, 9 de abril de 2008

A EXIGÊNCIA DA ALMA

Nas rodas de conversa nos intervalos das aulas da faculdade, as amigas de Leila atentavam para o fato dela estar sendo muito criteriosa na escolha de um namorado. Leila, 22 anos, ainda sonhava com o famoso, batido e raro “príncipe encantado”. Nos dias de hoje? Uma menina com essa idade e com esse tipo de expectativa? Parece piada. Porém, era assim que Leila se posicionava diante de sentimentos atualmente tão banalizados.

Leila não escondia o fato de ter beijado apenas um rapaz até então, o Renato, seu primeiro e único namorado. Beijos frutos de um relacionamento que foi dos 17 aos 19 anos. De lá para cá, a menina nunca mais beijou ninguém. Permaneceu na espera de um cara que realmente quisesse algo sério com sua pessoa, visto que Renato a deixou por motivos de “força maior”. Tratava-se da força que tinha de fazer para não perder a razão e avançar o sinal vermelho imposto por Leila.

Certo dia, Camila, a melhor amiga de Leila, lhe chega com uma possível solução para a pausa de três anos da menina.
- Leila. Olha só. Se esse meu primo que irei te apresentar não lhe servir, esquece! Nunca mais arrumará ninguém! Palavra de amiga!
- Calma. Mas o que de tão especial tem esse seu primo?
Perguntava Leila.
- Preste atenção. Ele é romântico, atencioso e companheiro. Sem contar que é muito trabalhador e lindo de morrer. O nome dele é Plínio.
- Mas espere aí. Como você sabe disso tudo? Por acaso você já provou?
Questionava mais uma vez Leila.
- Não é nada disso, Leila. Eu era unha e carne da ex-namorada dele. E ela me contava tudo.

Leila, depois de mais umas dezenas de questionamentos, aceitou conhecer o tal do Plínio.
- Amanhã haverá um almoço lá em casa para comemorarmos os 50 anos de papai. Ele estará lá. Topa?
- Tudo bem, mas Camila, eu espero que esteja certa nas coisas que fala sobre ele.
- Vai ver que estou, mas ele só tem um problema.
- Qual?
- Nada demais. Mas se eu lhe contar agora, você pode querer desistir.
- Amiga, como assim?
- Você vai saber, mas lá!
Afirmava Camila com um sorriso.

No dia seguinte, na casa de Camila, lá estava Leila em um vestido que, embora comportado, a deixava irresistível. A menina tratava bem de seus longos e lisos cabelos castanhos que junto a sua pele morena a tornava ali naquele almoço a mais bela das convidadas. O que uma jovem tão linda fazia sem namorado? Era o que se perguntavam todos os amigos que segundo o olhar de Leila não serviam para serem donos de um coração tão exigente.

- Leila! Você está linda!
Elogiava Camila.
- Obrigada amiga. Só quero ver o que você está aprontando.
- Vai ver agora mesmo. Está vendo aquele gato ali na segunda mesa?
- Estou.
Já respondia Leila encantada com o que vê.
- É o Plínio. Vamos lá para que eu lhe apresente.
- Mas já?
- Já! Vocês terão a tarde toda para conversarem. Que tal?
- Nossa, ele é lindo mesmo, Camila!
E lá ia Camila puxando Leila pelo braço que a seguia boquiaberta.

- Oi, Plínio!
- Oi prima! Tudo bom?
- Tudo! Esta é minha amiga, a Leila.
Apresentava-lhes um ao outro e se explicava:
- Hoje estarei muito enrolada por aqui, você pode fazer companhia a ela? Ela não conhece ninguém da família.
Sem sair da cadeira, Plínio respondia admirando Leila dos pés à cabeça:
- Claro, será um prazer, prima.
- Que ótimo.
Retirava-se de cena Camila.

Plínio e Leila conversaram durante toda aquela tarde. Leila só olhava para os olhos claros de Plínio e se deliciava com aquela fala calma, suave e precisa do rapaz. Realmente Camila tinha razão, pois Plínio em poucos minutos de conversa já se mostrava uma excelente companhia. Leila, linda do jeito que era, fez o primo de Camila empenhar-se ainda mais na tarefa que lhe foi dada. Os dois não saíram de suas cadeiras sequer um minuto tamanho era o excesso de assunto. Plínio era um homem interessantíssimo e de conteúdo vasto. A essa altura da festa, Leila já nem se lembrava do defeito que Camila havia citado. Para ela, Plínio já era perfeito!

Findando a tarde, a família se reúne para o canto dos parabéns ao pai de Camila. Todos ficam de pé. Leila também se levanta, mas sem prestar atenção em sequer uma palavra do discurso do aniversariante. Só pensava no fato de ter enfim encontrado uma pessoa que merecia a sua dedicação. Dedicação. Palavra forte para uma simples possibilidade de inicio de um namoro. Mas era como ela se colocava diante de um relacionamento.

Ao fim do discurso, Leila nota que Plínio permanecia sentado.
- Não vai se levantar?
- Ah sim! Claro.
Plínio estica suas mãos para debaixo da mesa e puxa um par de muletas. Ergue-se com dificuldades e estampando um sorriso sem graça no rosto por conta da falta de uma perna. Plínio esperava de Leila naquele momento um espanto.
- Ah! Agora sim, pensei que você fosse um mau sobrinho!
Afirmava sorrindo a graciosa Leila para surpresa de Plínio.

De pé, os dois ainda conversaram até umas oito da noite, quando Plínio teve de se despedir.
- Quando nos vemos de novo? Estou encantado com sua pessoa!
- Eu estou sempre com a Camila, ela será nossa mensageira, pode ser? Também gostei muito de você e...
Nesse momento, Plínio a interrompe com um beijo e emenda:
- A gente vai se ver! Não vai?
- Claro que vamos. Depois desse beijo então.
- Ótimo.
Plínio segue com seus passos difíceis em direção ao carro de seu pai.

Chegava uma sorridente Camila à Leila.
- Eu vi! Beijaram!
- Amiga, ele é perfeito! Por que não me apresentou ele antes?
- Sei lá. Sempre pensei que o “defeito” dele poderia te incomodar.
- Pois é. Mas que defeito é esse que você me alertou? Não vi defeito nenhum!
- Ele não tem uma perna, Leila. Não viu?
- Como assim?
- Ele usa muletas, Leila. Não viu?
- Não.
- Como não? Está maluca?

Naquele momento, as duas amigas reconheciam que a visão que Leila tinha sobre os homens era focada sempre no interior dos mesmos. O coração de Leila foi incapaz de notar a deficiência física de Plínio. Leila na verdade não era exigente quanto ao corpo, mas quanto à alma de um companheiro.

3 comentários:

Anônimo disse...

sem mortes! sem loucuras!e bonitiinho!aeeeeeeeeeee!!!!
ficou muito legal, como todos os outros... que bom que teve um final feliz. bem bacana! tabm fico contente e alegra qndo você foge das mortes.



beijo.

Anônimo disse...

"O essencial é invisível aos olhos"

Vanessa Sagossi disse...

Super fofo!
^^