terça-feira, 20 de maio de 2008

9021

Diego freqüentou as festinhas, os churrascos, as saídas ao shopping e à praia durante todo o ano. Estudante do primeiro ano do ensino médio, o garoto estava aproveitando uma das melhores fases de sua vida, se não a melhor. Bonito e um verdadeiro pós-graduado em conversa, Diego conquistava as meninas com facilidade, a mesma facilidade que tinha para trocá-las, passar a ser odiado por elas e ser idolatrado pelos outros meninos da escola. Diego se encontrava agora na difícil tarefa de todos os anos; recuperar o tempo perdido, que de perdido não tinha nada na idéia do menino. Afinal, Diego não se arrependia de nenhum minuto que se “dedicou à felicidade”, como costumava dizer.

Estava encrencado em três matérias: matemática, português e física. Em matemática já tinha decidido o que fazer. Ora, o que vem feito todos os anos, pedir aulas particulares a Guilherme, seu irmão mais velho e idolatrado, já graduado na matéria. Para as provas da língua Diego teve a brilhante idéia: Continuaria “ficando” com Bruna, que sempre foi uma ótima aluna e completamente cega por ele, para que o ajudasse com aulas de reforço. E física? Diego não tinha a menor idéia do que faria para conseguir a média na matéria da excelente Professora Lívia, que por sua vez era o pesadelo e ao mesmo tempo o sonho dos meninos da escola. É que Lívia era simplesmente linda. Uma deusa em forma de professora, porém, por trás de suas pernas torneadas, seus seios firmes e proporcionais e seus olhos castanhos claros, havia um verdadeiro demônio em forma de modelo. Incapaz de dar um sorriso, Lívia levava sua profissão a ferro e fogo. Nunca desrespeitou sequer um aluno. Com ela não tinha isso. Ganhava os alunos com a moral que vinha anexa ao seu olhar e sua perfeita postura. Ela agia como na verdade todo mestre deveria agir, mantendo o respeito e o bom relacionamento entre aluno e professor, porém, sem apelar para piadas, tapinhas nas costas ou se tornar amiga dos fedelhos. Lívia era professora e os alunos eram... alunos.

“Fodeu”. Pensou Diego. Não havia o que fazer. Não conhecia ninguém bom o bastante para lhe dar aulas de física. Na verdade, Diego precisava de um super hiper mega intensivo com toda a matéria dada durante o ano em apenas duas semanas. Todos os seus amigos, inclusive Bruna, passaram raspando da fase de recuperação. Na lista de Lívia só havia ele para perturbar o mês ensolarado de dezembro e mesmo que ela quisesse, Diego não tinha condições de ser aprovado pelo conselho de classe pois suas notas eram baixas demais. Ótimo. Lívia não lamentaria mesmo por alguns dias de praia perdidos por conta do aluno tapado que conseguiu a façanha de ir para a prova de recuperação com ela. Diego teve que estudar sozinho e tentar entender aquele monte de fórmulas que para o seu entender de nada valeriam para sua vida. Foi a matéria em que Diego mais se dedicou, nas outras, Guilherme e Bruna faziam um belo trabalho com o malandrinho.

Faltando dois dias para a prova de física, Diego se via desesperado em meio à sua situação. Concluía que não estava pronto para enfrentar as questões de Lívia. Imaginava a professora vestida apenas com roupas intimas em tons avermelhados, formulando os problemas que Diego teria de resolver, enquanto gargalhava diabolicamente em frente a um cenário infernal. Esses desvios de concentração deixavam Diego suando frio e cada vez mais nervoso. Então pensou: “Não tenho nada a perder. Não conseguirei mesmo fazer esta prova. O Guilherme conhece a Lívia, já me contou que deram aula juntos num mesmo colégio. Ele podia pedir a ela que me desse os pontos necessários”.
- Não! Você ficou maluco?
Respondeu Guilherme em tom irritado após ouvir o pedido do irmão.
- Poxa, Guilherme, não custa nada. Afinal de contas, para que servem os amigos?
- Isso é ridículo, Diego. Jamais pediria isso a um professor, muito menos à Lívia. Ora, ora. A Lívia. Um caso antigo...
Deixa escapulir, Guilherme.
- O que? Um caso? Você e a Lívia tiveram um caso?
Perguntou Diego.
- Puta que pariu, Diego. Sim. Pronto. Falei. Mas não vá dizer isso a ela, ouviu?
- Claro que não, Guilherme. Ficou louco? Ela me reprovaria antes de fazer a prova. Do jeito que ela é séria.
- Acho bom, Diego. Acho bom.

Realmente Diego jamais faria uma coisa dessas. Mas faria algo bem mais vantajoso para si com aquela informação tão valiosa. Conseguiu no celular do irmão o número do telefone de Lívia. Com um pano na boca e imitando o máximo o jeito do irmão falar, ligou a cobrar para a professora.
- Alô.
- Lívia?
- Sim. Quem fala?
- Guilherme. Lembra de mim? Professor de matemática.
- Como não lembraria?
- Que bom. Como você está?
- Bem. E você? Não me parece com uma voz muito boa.
- (Tossindo) Pois é. (Mais tosse) Uma tosse enjoada. Mas está tudo bem. Na verdade estou te ligando por causa de um problema um pouco mais grave.
- Pois não. Diga.
- O meu irmão, o Diego, ele é seu aluno. Ele está em recuperação. Estuda no Josias de Andrade.
- Sim. Perfeitamente. O único, diga-se de passagem.
- (Pasmo) Pois é. Gostaria de saber se não daria para você aliviar a situação dele. Ele é um bom menino, apenas deu uma escorregada na sua matéria.
Uma pausa de Lívia fez Diego pensar que talvez ela estivesse concordando com a idéia. Até que ele insiste:
- Em troca, podíamos relembrar os velhos tempos. O que acha?
- O que? Guilherme, não me faça relembrar aqueles momentos tão... tão...
- Tão bons?
- Bons? Se você achou bom eu lhe flagrar aos beijos na sala dos professores com o Lauro, de educação física, tudo bem. Mas eu achei péssimo para um namorado!
Diego perdeu a voz. Não sabia o que dizer e nem o que pensar. Acabara de descobrir um passado vergonhoso do próprio irmão. O garoto desejou nunca ter tido a idéia de ligar para Lívia. Pensou que seria melhor ser reprovado do que tomar posse de um fato tão estranho.
- Guilherme... Guilherme? Ficou mudo? Quanto ao seu irmão, o Diego, sei que ele não tem nada a ver com a sua falta de caráter, mas farei de tudo para reprová-lo, tamanha minha indignação com sua proposta imunda. E ele ainda deve ser igual a você.
Diego quis morrer.

Conto publicado originalmente em 10 de novembro de 2007 no fotolog.com/lucianofreitas.

2 comentários:

Unknown disse...

me leeeeeembro!
beijo beijo.

Anônimo disse...

E aí, cara!? Blz?

Valeu pela visita. Fico feliz que tenha gostado das fotos. Tbem escrevo, mas só de vez em quando. Na categoria de contos devem ter uns seis que escrevi, alguns são meio extensos. Mas, se puder, dá uma olhada lá.

Acabei de ver seu comentário, e seu blog tbem. Tem muito material, cara! Vou ler com calma, assim que puder. Já linquei seu blog no meu. =)

Sobre usar as fotos: sem problemas, fique à vontade. Eu posto elas no flickr e meio que travo o uso, mas se vc quiser alguma a gente troca idéia e te envio o arquivo. Aí vc credita ela lá, hein?... rsrsrs... [ acho que nem precisa pedir né? :P ]

Meu msn é orozimble@hotmail.com

add aí e trocamos idéia com calma.

Abraços,
Gabriel