
Rômulo ligara para Marcos pelo menos umas dez vezes, a fim de saber notícias de Luana. E por mais que ouvisse do pai da menina que estava tudo bem, Rômulo ligava de novo e de novo e de novo...
- Rômulo – dizia Marcos na última ligação –, fique tranquilo, por favor. Luana logo acordará e em breve estará liberada pelos médicos. Está tudo bem! Acredite rapaz!
- Quero ir até aí! Quero vê-la!
- Não é aconselhável, Rômulo. Não agora. Ela precisa descansar. Logo vocês se verão, OK?
- Tudo bem, primo Marcos.
Por volta de onze da manhã, Luana recebia alta do Dr. Fernando. Marcos e Patrícia, que mais pareciam um casal de zumbis, sorriam aliviados ao saber que levariam a menina para casa. Luana, já mais esperta, abraçava Marcos e Patrícia com força no corredor do hospital.
- Está tudo bem agora, Luana – dizia Marcos – Vamos para casa, tomar um bom banho e descansar!
- Onde está Rômulo?
- Eu achei melhor ele não vir, filha.
- Mas queria tanto vê-lo!
- Posso imaginar o quanto, Luana, mas terá todo o tempo do mundo para vê-lo.
- Sim...
Pelo caminho, mas uma ligação de Rômulo para Marcos.
- Diga, Rômulo!
- Ela já recebeu alta, primo?
- Já. Estamos indo para casa.
- Eu encontro vocês lá, pode ser?
- Pode sim, mas me prometa que vai deixá-la dormir, OK?
- Prometo.
Celeste, a empregada da família de Luana esperava por eles no portão sem saber o que ocorrera, mas ao ver Luana com a cabeça enfaixada, aquela senhora, tomada por um sentimento quase que materno, largava o guarda-chuva no chão e corria para os braços da menina. “Meu anjinho! O que aconteceu, meu Deus?”, dizia Celeste.
- É uma longa história, Celeste – dizia Marcos – Mas está tudo bem, graças a Deus. Não tive como te contar antes, me desculpe essa espera toda.
- Não tem problema, mas me conte o que houve, homem de Deus!
- Assim que pudermos. No momento precisamos é de um bom banho e de uma boa comida.
Luana entrava em casa e ia direto abraçar Mimi, que miava alto de tanta saudade. Passava os olhos pela casa e, repentinamente, Luana tinha a noção de que por muito pouco não perdera a oportunidade de viver a alegria que era estar em casa, com sua família. Lembrava-se da voz de “Um”. Sentia-se como se nascesse novamente; suspirava aliviada.
* * *
Patrícia adiantava o ocorrido e ajudava Celeste com a comida e a mesa enquanto Marcos telefonava a fim de passar as ordens do dia aos seus funcionários dos supermercados.
Luana, no andar de cima, tomava um longo banho. Com cuidado para não molhar o curativo na testa, Luana ensaboava todo o corpo lentamente. Pensava muito em tudo o que ocorrera na noite anterior, mas sem tirar da cabeça uma melodia agora muito familiar: o primeiro movimento da obra que Rômulo compunha e mostrara a ela momentos antes do sequestro. Era uma melodia linda. Embalava aquele banho repleto de lembranças boas e ruins daquele domingo.
Luana se lembrava dos beijos de Rômulo em sua nuca, porém, lembrava-se também da violência com que teve seus cabelos puxados por aquele seqüestrador. Lembrava-se da chuva que levemente umedecia os sentimentos tão à flor da pele daquele frio fim de tarde. Deixava-se banhar pelas águas quentes do chuveiro, que se misturavam com as lágrimas que nasciam mudas de seus olhinhos puxados.
A melodia do piano de Rômulo tornava-se mais presente na mente de Luana à medida que lembrança lhe presenteava com mais alguns compassos. “Rômulo...”, sussurrava Luana ao sentir o corpo arder com o calor daquelas águas. Tudo o que mais queria era sentir novamente aquele beijo interrompido por armas e agressões. Luana sentia como se parte dela estivesse ausente, porém, a caminho.
Luana vestia um conjunto de moletom azul claro, calçava sua sandália e descia para o almoço.
Já na metade da escada, Luana pôde ver à mesa Patrícia, Marcos e, para sua inquietante e silenciosa loucura, Rômulo.
- Você está aí! Nem o ouvi chegar, meu... – dizia Luana, que tinha seu corpo abraçado por um Rômulo quase que doente de saudade, logo ao fim da escada.
- Como você está, meu amor?
- Bem! Muito melhor agora, Rômulo! Ai, me abraça forte!
O jovem casal evitava o beijo frente aos pais de ambos, sempre. Mas o abraço já dizia por si só. Marcos ficava sem graça diante da cena e, talvez, até um pouco enciumado. Patrícia e Celeste sorriam comovidas.
Durante o almoço, Luana se mostrou bem animada e, embora Marcos e Patrícia quisessem evitar, ela mesma puxava assunto sobre o sequestro – para alívio de todos, na verdade, já que morriam de curiosidade para saber o que de fato ocorrera naquele banheiro.
- ...foi quando aquele homem me pegou pelo cabelo e me levou para o banheiro. Ele abriu a porta e me jogou com força no chão. Eu bati com a testa no vaso sanitário e comecei a sangrar. Fiquei meio zonza e vi tudo “escurecendo”. Então ele falou alguma coisa comigo, levantou a minha cabeça e bateu de leve no meu rosto para ver se eu acordava. Eu fechei um pouco os olhos, mas cheguei a ver que ele ainda checou a minha pulsação, me deitou sobre uma toalha de banho e, com uma outra toalha, me cobriu. Com papel higiênico, ele enrolou a minha cabeça, acho que para estancar o sangue, não sei. Depois disso, não me lembro de mais de nada. Tudo foi apagando aos poucos. Pensei que estava morrendo.
Todos à mesa pareciam pensar na mesma coisa: aquele sequestrador, apesar de tudo, ainda tivera certo cuidado com Luana. A menina continuava:
- Tenho medo que eles voltem, Rômulo.
- Não vão voltar, Luana.
- Como tem tanta certeza?
- Porque eles estão mortos. Todos eles. A Polícia os matou.
- Meu Deus!
- Vamos mudar de assunto, gente? – pedia Marcos.
O silêncio tomava conta da refeição.
Luana abaixava seu garfo ainda com comida e, boquiaberta, olhava para o nada. Um fio de lágrima corria seu rosto até cair sobre o arroz de seu prato.
Chorava porque dentro de si um conflito enorme entre a felicidade de ter saído viva e as imagens de que sua própria mente criava em relação à morte daqueles sequestradores se fazia presente de modo assustador. O piso, o piano, o sofá e tudo aquilo que testemunhara o amor pleno e inocente de Rômulo e Luana fora também um cenário sangrento.
[Continua]
* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Trilha Sonora: Piano Sonata N.º 15 (2nd Movement) – Mozart.
Mais histórias sobre Luana em: LUANA, DUAS, O NATAL DE LUANA, GISELE, JANEIRO MEU, VERDADES DE LUANA e MINHA PRIMA LUANA.
8 comentários:
Primeiiiiraa!! Uruul!!!
Aiaiaiii, Luanaa!
Ela continua fofa como sempre!
E o Luciano fazendo o maior suspensee!
Quero mais!
continuua...
bjuh!
Eita...
Quanta confusão na cabeça da Luaninhaaaa!
depois de um trauma desse é normal que ela demore um pouco pra se recuperar.
mas ainda bem que as coisas estão voltando a normalidade.. :)
bjos
....Vim pela música...rsrs
Bjokas
eu ia dar pulos de alegria por saber da morte deles...
sim, eu n presto.
100sacional.......
Bom, o negocio é ir devagar e sempre.... Que tudo se ajeita...
Gostei do estilo do blog......
esta expetacular!
Se puder visite o meu
http://euvoustar.blogspot.com
Eu ia ficar feliz de ter saído viva e saber que os sequestradores nunca mais voltariam...
www.teoria-do-playmobil.blogspot.com
Luciano, parabens por mais uma serie sobre a Luana maravilhosa e pelo dia de hj.
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