quarta-feira, 2 de abril de 2008

AS TENTATIVAS DE MATHEUS

Um completo branco toma sua vista no momento em que o caminhão passa a poucos centímetros de seu corpo. Matheus se coloca próximo à morte sempre que deseja obter coragem para encarar uma determinada situação. Na cabeça dele, a sensação do “nascer de novo” o faz levantar o sentimento de “agora, o que vier é lucro”. Para falar com o pai da namorada sobre a gravidez indesejada, roleta russa com o revólver de um amigo. Para explicar à sua mãe um simples, porém profundo arranhão na lateral do carro, travessia da Avenida Brasil de olhos vendados. Apenas alguns exemplos.

Após sair ileso de uma colisão onde morreram todos os outros quatro amigos ocupantes do veículo, quando tinha dezesseis anos, Matheus se sentiu mais vivo e mais pronto do que nunca para praticar suas tentativas suicidas. O fato lhe chocou, mas a sensação vivida ali naquele momento foi uma descoberta. O branco que ele vê toda vez que se arrisca é, segundo ele, prazeroso. A sensação de estar meio desprendido e meio dentro da matéria o faz passar alguns momentos seguintes em total anestesia e detentor de uma enorme coragem.

Alguns amigos sabem das tentativas de Matheus e o alertam para o fato de estar brincando com um caminho sem volta. Com uma filha de dois anos para sustentar, Matheus afirma que não é a morte que ele busca, e sim, o êxtase que se encontra toda vez que se entrega a esses atos inconseqüentes. Na empresa onde trabalha, o rapaz se vê enlouquecido diante de uma reunião importante e a nula chance de fazer suas tentativas para encarar a mesma.

Sua esposa, Mônica, também sabe de sua mania suicida. Convive com a dúvida eterna se Matheus chega ou não a casa ao anoitecer. O amor de Mônica é ainda maior do que o medo. Isso a faz tentar ajudá-lo de todas as formas possíveis. Acha que não é normal um ser humano conviver com essa necessidade louca de estar a um fio da morte por puro prazer ou busca de coragem. Matheus recusa a visita a qualquer profissional que ouse estudar o que se passa em sua cabeça.

Como entender esse estágio de passagem entre a vida e a morte? Como Matheus foi capaz de desenvolver essa “técnica” de segurar-se a vida através da proximidade da morte? Como consegue coragem após a covardia a fim de adquirir uma outra coragem? Confuso?

Certo dia, Matheus precisou daquela dose de adrenalina e daquele branco que o fazia tornar uma outra pessoa tão diferente. Necessitou nascer novamente para enfrentar Mônica numa conversa que colocaria seu casamento na rampa. Matheus engravidou Letícia, um caso antigo, e não sabia como confessar o adultério à esposa. O processo começou e o necessitado deitou-se no meio da, mais uma vez, Avenida Brasil e contou quantos automóveis rasparam seu corpo trêmulo e em transe. Até que um ônibus em alta velocidade não conseguiu desviar e passou por cima daquela cabeça tão complexa de Matheus.

A morte trágica do rapaz deixou para trás não só uma confissão, mas uma covardia, uma coragem não obtida e o entendimento, por parte dos que o rodeavam, de uma mente covarde e corajosa ao mesmo tempo.

2 comentários:

Anônimo disse...

eu acertei! eu acertei!
uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

po, luciano... o metheus era realmente louco de pedra! se eu fosse a monica, já teria amarrado a criatura numa camisa de força faz tempo!

morrer com um bus bem na cabeça deve ser bem ruim.. argh.

beijo.

Chris Ferlon disse...

mente covarde e corajosa ao mesmo tempo? discordo. pra mim é só covardia... rs
e loucura, claro... hahahahaha
=**