domingo, 2 de agosto de 2009

OPUS 1 - Parte 1



O vento gelado daquele fim de tarde fazia o casal se abraçar ainda mais forte. A varanda de Rômulo era bastante arejada e repleta de plantas dos mais variados tipos. O céu cinza e o anunciar de chuvas fortes não espantavam o romantismo dos dois; muito pelo contrário: eles amavam dias nublados. Com os olhos bem próximos dos de Luana, Rômulo tocava de leve o rosto meigo da menina, que, por sua vez, procurava quietar a boca trêmula de frio beijando a mão do namorado. Ambos sorriam e brincavam com aquele clima que tratava de uni-los mais e mais.

Com as suas pernas sobre as de Rômulo, Luana se encolhia e recostava o rosto gelado sobre o peito do rapaz, que a acariciava próximo à boca. Por minutos não disseram palavra. Os olhares, os gestos e as carícias diziam por si só. Talvez, nem eles mesmos saberiam expressar em dizeres o que sentiam um pelo outro naquele momento. Estava claro para ambos o poder daquele sentimento mútuo e avassalador.

Depois de muito se beijarem, um sussurro escapava dos lábios de Luana: “Eu te amo”. Sorrisos sincronizados nasciam em ambos os rostos.

Mais beijos.

Algumas gotas começavam a molhar o peitoril em granito da varanda quando a noite já se fazia presente. Para estranheza de Rômulo, as luzes da varanda não foram acesas por seus pais. Na certa porque, no quarto ao lado, estes dormiam ou assistiam TV sobre dois ou mais edredons.

- Ficou escuro de repente, Rômulo – dizia Luana – Seus pais não acenderam as luzes.
- Devem estar dormindo, no mínimo. Quer que eu as acenda?
- Ah, não deixe assim mesmo. Está tão bom – dizia a menina a se acomodar sobre o peito de Rômulo.

À frente daquela varanda havia um imenso espaço cuidadosamente gramado. Mais à frente, árvores que se harmonizavam até o portão de entrada. Luana avistava o verde, o céu escuro, a chuva a cair, e sentia o típico aroma de terra molhada. Sentidos que se uniam ainda ao sabor do beijo de Rômulo e ao calor daquele abraço acolhedor. Rômulo tomava Luana em seus braços como quem protege a inocência alheia da aproximação de algo maléfico. Proteção era o que Rômulo se dedicava incansavelmente em proporcionar à Luana.

A chuva apertava forçando o casal a procurar um abrigo mais seguro.

- Está chovendo aqui dentro, Rômulo – dizia Luana – Melhor entrarmos.
- Droga! Estava tão bom aqui.

O casal entrava.

Ainda na porta da sala, ao ver que Luana procurava pelo interruptor a fim de acender a luz do recinto, Rômulo impedia aquele braço de fragilidade tão sedutora.

- Não! Deixe... assim... – dizia Rômulo ao pé do ouvido de Luana.

O rapaz lhe beijava a nuca tendo a tempestade e os relâmpagos ao fundo.

- Melhor... acendermos..., Rômulo – dizia Luana – Seus... pais... podem... achar... ruim... eu... e você...
- São... apenas... beijos..., Luana!
- Sim..., mas... são... beijos... na nuca, Rômulo! – dizia Luana a fugir – Sabe que não resisto a beijo na nuca! Seu espertinho!
- Por isso mesmo, ora! Não a beijaria onde resistes!
- Refere-se à boca?
- Refiro-me a nada! Não há lugar em ti que resista a meus beijos!
- Hum... Convencido!
- Venha!

Afastando os cabelos macios de Luana, Rômulo a tomava novamente pela nuca. A menina se arrepiava e, num ato de reflexo, puxava com força a barra do casaco do namorado. Quando Rômulo a beijava daquela forma, Luana enfraquecia; rendia-se por completa aos encantos daquele romance.

- Pare, Rômulo, por favor...
- Por quê?
- Porque sim! – Luana fugia novamente – Sossega! Poxa!
- Está bem! Sosseguei! – dizia Rômulo estampando um sorriso moleque.
- Bobo! – Luana ria.

Rômulo acendia a luz e se dirigia até o piano. Como que num ritual de libertação daquilo que a consumia, Luana passava a mão sobre a nuca, fechava os olhos e, sem que Rômulo percebesse, mordia os lábios rapidamente. A menina se acomodava num dos sofás e procurava se recompor.

- O que vai querer ouvir, meu amor? – perguntava Rômulo ao piano.
- Ai... Com essa chuvinha... Toca aquela que eu amo!
- Qual, meu anjo?
- Aquela curtinha que começa com uma melodia, sem harmonia, lembra? Você a tocou ontem mesmo, Rômulo!
- Ah! “Promenade” do Mussorgsky!
- Isso! Lembrei! Desse moço aí mesmo!
- Moço... – Rômulo ria do jeitinho como Luana se referia ao compositor Modest Mussorgsky.

Rômulo executava “Promenade” a pedido de Luana, mas enchendo a música de floreios e pausas mais longas que as contidas na partitura original. O rapaz tinha o costume de executar as peças clássicas com muita propriedade. Ele fazia aquelas composições parecerem dele.

Luana apreciava boquiaberta, como sempre. Sem tirar o foco no namorado, a menina retirava o par de tênis e, exibindo suas meias de cor rosa com estrelinhas azuis, se encolhia junto a uma das almofadas do sofá.

Ao fim da execução, Rômulo emendava uma nova melodia.

- Isso não é da música, Rômulo! Para de inventar! – Luana dizia ao lhe arremessar uma almofada.
- Não estou inventando nada! Nunca ouviu falar em música incidental?
- Já, mas que música é essa? Nunca o ouvi tocá-la!
- Fiz para você...
- Para mim?
- Sim! Posso tocar?
- Deve...

Rômulo executou então a melodia mais bela que Luana tivera contato. Com pouco mais de três minutos, a peça era composta em tom maior e repleta de frases “ensolaradas”, o que gerava um clima feliz e esperançoso.

- E então, gostou? – perguntava Rômulo.
- Você está brincando? É a coisa mais linda, Rômulo!
- Que bom que gostou...
- Gostei? Eu amei! Ai, Rômulo!
- Essa foi só uma parte, Luana. Quero escrever uma obra inteira inspirada em você.
- Não mereço tanto, meu amor.
- Merece sim! E eu mereço também! Nunca tive fonte tão inspiradora, Luana!

A menina corria do sofá até o piano e se jogava nos braços de Rômulo.

- Eu te amo! – dizia Luana.
- Eu também te amo!

Um beijo interminável tomava conta do cenário. As mãos de Rômulo acariciavam o rosto de Luana em movimentos inquietos. Estava o rapaz num imenso conflito entre o desejo natural de seus dezoito anos e o respeito que se cobrava diante dos dezesseis de sua prima-namorada, que, por sua vez, respirava ofegante quando tinha sua nuca na mira de mais beijos.

Até que:

- Fim da festa, molecada!

Um homem com o rosto coberto por um capuz os interrompia com uma arma já na cabeça de Rômulo.

- Quietinhos, OK? – dizia o homem.

Brancos e sem ação, Rômulo e Luana apenas seguiam às ordens daquele homem.

- Deitados aí, olhando para o chão! “Três” – dizia ele a outro encapuzado – procure os coroas pela casa! Sei que eles estão por aí!
- OK, “Um”! – dizia o outro.

Eram quatro ao todo. Eles se espalharam pela casa e se chamavam por números ao invés de nomes. Invadiram a casa pelos fundos. O som do piano e a chuva forte não deixaram que Rômulo, seus pais ou Luana ouvissem qualquer barulho estranho no momento da invasão. Em poucos segundos estavam todos rendidos pelos bandidos.

Rômulo, ainda sem assimilar a situação, se sentiu tomado por um ódio inédito ao ver Luana com o rosto ao chão e a chorar calada.

[Continua]

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Trilha Sonora: Promenade / Gnomus – Modest Mussorgsky.
Mais histórias sobre Luana em: LUANA, DUAS, O NATAL DE LUANA, GISELE, JANEIRO MEU, VERDADES DE LUANA e MINHA PRIMA LUANA.

15 comentários:

Anônimo disse...

Só. Todo mundo morre no final e a culpa é do mordomo, tô ligado.

Livia Queiroz disse...

noooooooossa!

Tava tão bom...
Romulo quase se dando bem...

Eita por essa eu n esperava! rsrs

Nathalia disse...

poxa! tava tudo tão lindo!
bem que vc falou, as primeiras cenas eram liiiindas!
ai... fofos!

assaltantes? por esse, realmente, não esperava...

adoreeeeeeeeeeeeeeeei!
beijos

Félix Maranganha disse...

Cara, é o seguinte, o conto tá legal, mas as descrições Românticas tornam o conto meio lento e enfadonho.

Tem ótimas frases, e os diálogos são bem construídos, mas, sei lá, senti uma certa pressa próximo ao fim do conto.

FAGGH® disse...

muito bacana isso aki , vc mesmo que escreve ? deve ter muita imaginação para isso .
abrç
www.celebritypoke.blogspot.com

Vini e Carol disse...

Ficou boa o começo da história de amor.
Mas, se eu fosse você encurtava os capítulos, muita gente não irá ler tudo isso, você deu sorte de pegar um leitor como eu rs.

Abraço.

Janaina W Muller disse...

Não esperava uma personagem como a Luana em um conto com um final tão cheio de ação. Gostei! Vai ver agora eu começo a gostar mais do Rômulo :p

Abraços.
='-'=

Rê Thuler disse...

Nossa, você escreve super bem.
Otima historia..
estou anciosa para a continuação.

=)

beijoo

Pobre esponja disse...

Falta muito, muitoooo... mas percebe-se sua boa intenção. Dica: leia muito, leia 3 páginas antes de esboçar uma: com todos os grandes foi assim, porque que com nós (tanbém escrevo) não será?

abç
Pobre Esponja

Anônimo disse...

nossa estava tudo tão lindo *-*
não esperava mesmo por isso, agora fiquei muito ansiosa pelo que esta para acontecer!
que medo o.o

bjos

Pam disse...

Lucianoooo..como vc consegue fazer isso??

eu adoro seus contos......

MARAA...*-*

aguardo anciosa o proximo..rs

CAMILA de Araujo disse...

Os contos com a Luana são sempre os melhores xD

Aguardo a continuação ;)

www.teoria-do-playmobil.blogspot.com

Vanessa Sagossi disse...

Iruuullll... Luanaa!! E eu posso ler!! Demais!!
Tadiinho do Romulo, acabaram com a festa dele...
Continuuuaa!!
(:

FYC disse...

Aaaaah, gente! vocês acharam grande? PEMALOR, né? quem gosta, gosta!

Luacianooo, é a Nathalia! haha
preciso de uma ajuda! conhece alguém que saiba LATIM?

Só preciso saber uma palavra: PROTEGIDA!

pelo que vi an net, é "protecta", mas também vi escrito como "tutis"... to caRfusa.. rs

beijoooooooooo

Luciano Freitas disse...

Nat,

Não conheço pessoa capaz no latim...rs, infelizmente :(

Bjok