quinta-feira, 20 de agosto de 2009

OPUS 1 - Parte 7



Durante aquela tarde, depois de quase implorar a Marcos, Rômulo pôde ficar algumas horas ao lado de Luana. A menina deitava-se no sofá da sala e, fazendo das pernas do namorado um confortável travesseiro, assistia a monotonia da TV. O rapaz, vivendo o ápice daquele amor, apenas a observava e a acariciava o rosto. Na verdade ainda não acreditara que tudo estava bem novamente.

O telefone tocava e Celeste, naquele caminhar preguiçoso como aquela tarde fria, o atendia.

- Alô!
- Celeste? É a Giovanna! Tudo bom?
- Oi, menina! Tudo bem, sim, e você?
- Também! A Luana está?
- Ela está deitada.
- Dormindo?
- Não, não. Descansando. Espere aí.

Antes que Celeste dissesse algo:

- É Giovanna? – dizia Luana.
- É sim, minha filha.
- Eu atendo!

Celeste passava o telefone para Luana e voltava para a cozinha.

- Oi, Giovanna, tudo bom?
- Sim, e você?
- Sim! Pelo menos agora.
- Por que “pelo menos agora”? Aconteceu algo? Não te vi nesse final de semana.
- Pois é, Giovanna. Você não vai acreditar no que aconteceu no domingo...

Luana contava todo o ocorrido à amiga. Giovanna se espantava a cada frase. Não conseguia acreditar que de fato ocorrera tudo aquilo.

- ...e foi isso, Giovanna.
- Meu Deus! E como você está agora, Luana?
- Bem. Só precisando descansar um pouco. Rômulo está aqui comigo.
- Novidade... – dizia Giovanna sorrindo.
- Foi à escola hoje?
- Fui sim. Não te vi por lá, por isso te liguei. À noite lhe faço uma visita, pode ser?
- Deve!
- OK!

* * *
Mais para o fim da tarde, Rômulo se despedia de Luana. Um aperto no coração do rapaz o fazia abraçá-la como se jamais fosse a ver novamente.

- Fica bem, meu amor! – dizia ele.
- Impossível!
- Por quê?
- Sem você não fico bem!
- Diga isso ao seu pai... – ele ria.
- Pois é... Você vem amanhã?
- Seu pai não vai gostar... Lembra da regra? Só nos fins de semana!
- Eu sei, mas é um caso especial. Eu preciso de cuidados.
- Sei... Espertinha! Deixe-me ir. Eu te ligo!
- Espere eu te ligar, pode ser? Giovanna vem aqui mais tarde.
- Ah, sim, é mesmo! Então, eu espero!

Luana, ainda deitada sobre o sofá, recebia de Rômulo um beijo de despedida. Beijo esse que o rapaz fazia questão de caprichar, pois sabia que Luana, após um beijo como aquele e o ausentar do namorado, ia às nuvens; e assim ela ficava por horas.

Já por volta de oito da noite, Giovanna chegava à casa de Luana. As amigas se abraçaram por quase um minuto. Celeste, que presenciava a cena, sorria diante de amizade tão sólida. Marcos e Patrícia saíam do quarto para cumprimentar a menina, que era praticamente a única amiga de Luana e, por isso, muito querida naquela casa.

Luana subia com Giovanna para o seu quarto. Mimi ia atrás, como sempre.

- Que bom que veio me ver, Giovanna. Precisava mesmo te contar uma coisa.
- Mas não me contou tudo ao telefone? Aconteceu mais alguma coisa?
- Não “aconteceu”, mas “está acontecendo”.
- O que foi?
- Estou me sentindo muito estranha depois disso tudo.
- Como assim?
- Eu estou me sentindo muito culpada pela morte dos sequestradores.
- Mas...
- Eu sei, eu sei! Eles podiam ter matado a mim e a todos naquela casa, mas...
- Mas?
- Mas não mataram! E morreram! Faz ideia? Morreram! Foram exterminados!
- Mas, Luana, entenda o lado daqueles policiais! Eles tinham de salvar vocês! Os criminosos eram eles!
- Eu tenho noção de tudo isso, Giovanna, mas me dói muito saber que eles foram mortos.
- Olha o que eles fizeram na sua cabeça, Luana! Isso não te revolta?
- Um pouco, sim, mas eu estou aqui, viva!
- Porque merece!
- E eles não mereciam?
- Não, ora! Eram criminosos! Eles a matariam se fosse preciso. Tem dúvida disso?
- Não... Pior é que não tenho.
- Então!

Luana baixava a cabeça e em seguida olhava, pela janela de seu quarto, o vento que balançava as árvores e anunciava mais chuva. Os dias cinzas, que sempre lhe trouxeram tantos sentimentos bons, eram associados, a partir de então, àquele episódio de medo na casa de Rômulo. Luana nunca desejara tanto o fim de uma frente fria.

Rômulo quebrava o silêncio de sua casa com suas notas musicais. Decidia que se dedicaria por inteiro à composição daquela obra para piano. Alguns movimentos já estavam prontos e, naquele momento, o rapaz começava a criação da parte que expressaria o sofrimento de Luana naquele sequestro. Eram melodias melancólicas, mas não menos lindas que as das outras partes da obra. De certa forma aquele piano cheio de vida ajudava a trazer de volta a alegria em sua casa. Jânio e Lúcia apreciavam em silêncio da cozinha.

- Mas me diga! E você e o Rômulo? – perguntava Giovanna – Isso deve ter os unido ainda mais, não?
- E como... Pouco antes dos sequestradores chegarem, Rômulo estava me mostrando uma peça para piano que ele está compondo inspirado em mim, Giovanna! Dá para acreditar nisso?
- Jura?!
- O movimento que mostrou é tão lindo... A mais linda das melodias, amiga!
- Ai, Luana, sem inveja! No bom sentido! Rômulo parece um rapaz raro, não? Acha mesmo que exista outro igual?
- Imagina! Deus rasgou a receita!

As duas riam. Era a tentativa de Giovanna fazer Luana esquecer, pelo menos aos poucos, dos momentos do domingo. Aquele papo gostoso entre amigas se prolongaria aos risos até bem tarde da noite.

Lá de baixo, na sala, Marcos e Patrícia ouviam as gargalhadas das duas.

- Luana e Giovanna são inseparáveis! Isso é incrível! – dizia Patrícia.
- É. Gosto dessa menina. É uma ótima amizade para Luana.
- E é a única, Marcos. Você sabia?
- Eu imaginava. Mas por que Luana possui apenas uma única amiga, Patrícia? Por que não pode ser como todas as outras?
- Não posso afirmar o motivo, Marcos, mas o que vejo é que Luana não é menos feliz por conta disso. Todos precisamos de amigos. Luana também precisará. E, acredite, ela saberá a hora exata para isso.
- Eu espero que sim, Patrícia. Espero que sim.

[Continua]

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Trilha Sonora: Ballade N.º 1 - Op. 23 – Chopin.

10 comentários:

Livia Queiroz disse...

Ai que coisa boa ler isso...
Luana às gargalhadas...

Paira uma quase tranquilidade no ar, exceto pela aflição da Luaninha(quase um remorso sem motivos)
mas isso vai pasar!


To adoraaaando...

bjs

Unknown disse...

^^
Lido!
Doida por mais um...e mai u..rsrs
Bjokas

Nathalia disse...

oba! luana as gargalhadas! que óteeemo

CAMILA de Araujo disse...

A história tá ótima,Luciano!
Fico sempre querendo saber logo o que vai vir em seguida quando acaba...

Adoro a Luana, demais essa menina.
Apaixonante!

www.teoria-do-playmobil.blogspot.com

Hélio disse...

Tive que vir comentar aqui, senão ficaria até sem graça! Tenho acompanhado seu blog, mas ainda não tive tempo de ler os textos mais antigos!
.
Gosto do seu estilo!

Vanessa Sagossi disse...

Que boniitinhoo!
rsrsr
^^
Amoo!!

Continua?
Beijos!
(:

Lucas disse...

Desculpe minha ausência Luciano, só eu sei como minha vida tá corrida por conta da faculdade. Enfim, muito obrigado pelos comentários lá no blog.

_

Fiquei curioso agora. Luana foi seqüestrada, é?
Vou tentar ler os últimos posts.

Abraço.

Nathalia disse...

luacianooooooo, me ajuda? rs
já que não tenho mais o gmail, tem de ser por aqui mesmo...

vc tem o livro/xerox de comportamento do consumidor? Se tiver, e já tiver feito o trabalho, pode levar pra mim hoje?

tentei pegar com algumas pessoas lá da sala, mas eles se NEGARAM...hahaha
pior que é veradde...

beijos

Luciano Freitas disse...

Nat, eu tenho a xerox, mas ainda não fiz o trab. e ele não tá comigo hoje... só vi seu recado agora :(

Anônimo disse...

aos poucos isso deve passar e Luana volta a ficar bem de novo.
e tomare que nenhum tipo de pressão à prejudique :)


bjo.